A questão que fica, para se tirar lições, são as consequências, diante das circunstâncias que levaram à queda de Palocci.
O governo Dilma não foi quem mais perdeu. O governo continuaria sob ataque com Palocci ou sem ele, e terá que administrar estes ataques de uma forma ou de outra. O governo tem uma base partidária suficientemente ampla para fazer os arranjos necessários para compor maiorias. O problema é que nesses arranjos é bem provável que, para acomodar uma maioria dentro da zona de conforto, quem terá que ceder espaço é o PT. O tempo se encarregará de dizer.
Palocci não caiu por nenhum ilícito. Ele caiu por uma mera vitória do PIG (Partido da Impresa Golpista) e da oposição, a partir de um dossiê cuja origem tem todas as características de vir da turma do Serra, mais especificamente da secretaria de fazenda de Kassab, ocupada pelo serrista Mauro Ricardo.
Bastaram acusações a partir de insinuações, acompanhadas de discursos e editoriais indignados, e de bombardeio diário no noticiário, que até militantes petistas e blogueiros antes sujos, aderiram. Alguns por serem inocentes úteis. Outros por verem a oportunidade de derrubar o ministro que julgam ser “neoliberal” (se esquecendo que ele não está na Fazenda, nem no Banco Central), fizeram coro à Folha, Globo e Veja, mesmo não acreditando no que copiavam e colavam.
Fazendo uma analogia dramatizada; para os blogueiros verdadeiramente sujos (e talvez para o PT) a queda de Palocci é uma perda mais ou menos como quando Hitler conquistou a Polônia na II Guerra Mundial. Pouco tempo depois haveria a sangrenta batalha de Stalingrado.
E aí vem as consequências:
1) Os blogs que se deixaram seduzir pelo discurso do “não é ilegal, mas não é ético”, sem que houvesse de fato qualquer ilícito; da mesma forma que não concederam o benefício da dúvida, perderam esse benefício perante os “indignados” na hora que forem acusados de contratos com órgãos governamentais (como a TV Brasil). Sempre estarão no mesmo barco de Palocci, perante os “indignados”.
2) O PT praticamente perdeu por antecipação a eleição de 2012 na capital paulista. José Serra já deve estar encomendando o terno da posse. Não interessa o quanto um candidato petista ou do PCdoB seja bom. Há e haverá dossiês para cada um deles, para ser solto no PIG no momento conveniente e ser reverberado nas redes sociais. Só uma militância de esquerda com disposição dos soldados russos que resistiram em Stalingrado (e com comandantes políticos à altura que os mobilizem e motivem), pode salvar esta eleição paulista, depois de entregarem Palocci com relativa facilidade. Ou recorrer a um plano B: aceitar compor com o PMDB, sendo vice, e formar uma aliança de centro-direita capaz de rivalizar com os tucanos na disputa de espaços do poder econômico e midiático paulista.
3) O papel que Palocci fazia no governo Dilma não era torná-lo de direita, era conter o apetite da direita. Alguém terá que fazer esse papel, e pelo visto será alguém do PMDB ou de um partido de centro-direita. Só que em vez de conter, será um quadro da direita dentro do governo. Quem pensava em “guinada à esquerda” no governo, atrapalhou e criou obstáculos para a Presidenta.
4) O PIG e a oposição testaram até onde vai a resistência dos governistas, e tentará de novo, com outro ministro qualquer, com a Presidenta, com Lula, com governadores, com deputados e senadores que são nomes fortes para serem prefeitos em 2012 ou governadores em 2014.
5) Depois de conquistarem a “Palócia” (na analogia com a Polônia na II Guerra), o PIG+oposição vai querer avançar (se tivessem resistido mais em ceder a “Palócia”, a oposição ficaria atolada lá mais tempo, tentando); e não se cansarão enquanto não criarem uma nova CPI do fim-do-mundo, para pautar o noticiário político forjando uma aberração por dia no Jornal Nacional.
6) Como o alvo do PIG+oposição é o PT, os petistas precisam aprender com o PMDB como se reage a um ataque destes. Quando os demo-tucanos quiseram dar o golpe no Senado em 2009, o PMDB denunciou Arthur Virgílio no conselho de ética pelo caso Agaciel Maia. Os tucanos amarelaram. Se os petistas tivessem feito com Aécio Neves, o mesmo barulho que os demo-tucanos fizeram com Palocci, ou cairíam os dois, ou não caíria ninguém.
7) Depois do retrocesso, que foi a blogosfera chamada progressista reabilitar o PIG como “formador de opinião”, os verdadeiros blogueiros sujos terão que “retomar Stalingrado” em uma “guerra sangrenta”, como foi a do chamado “mensalão” e como foi a campanha de baixaria de 2010.
Será que estou sendo pessimista demais? Eu espero que sim, mas receio que não. É melhor preparar as “armas e mantimentos” para a grande “batalha de Stanlingrado”, enfrentando muitas “baixas” (dossiês e assassinando reputações) e baixarias.
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