sexta-feira, 8 de agosto de 2014

O Tucanistão, a maravilha fora do Brasil, por Safatle










BLOG O MURAL: Agora, acompanhe Safatle em sua visita ao Tucanistão.


“Bem-vindos ao Tucanistão, a terra da plena felicidade. Vocês acabam de desembarcar no aeroporto internacional que leva o nome do fundador de nossa dinastia, governador de nossa terra há 32 anos. Desde então, nossa amada dinastia está presente no coração de nosso povo de maneira praticamente ininterrupta.
Em nossos planos, haveria um Expresso Bandeirante que ligaria o aeroporto ao centro de nossa capital por trens rápidos. Ele não saiu do papel, mas isso não importa. Isso permitirá vocês passarem de carro lentamente pelo mais novo campus de nossa grande universidade, que leva o nome de nosso Segundo grande líder. No momento, ela está falida, com um deficit de 1 bilhão de reais produzido depois da passagem de um interventor nomeado pelo nosso Quarto grande líder. O próprio campus está sem aula por ter sido construído em terreno contaminado, mas tudo isso também não importa.
Depois do campus, vocês conhecerão o caudaloso rio Tietê. Há décadas ele está sendo despoluído. Grandes especialistas internacionais garantem que seu nível de poluição está caindo, mas ainda demorará algumas décadas para que os incautos sejam capazes de enxergar tal maravilha. Por falar em água, estamos passando atualmente por um “estresse hídrico de proporções não negligenciáveis”, mas não se preocupem. Como disse uma rainha francesa: quem não tem água que tome suco.
Se vocês olharem mais à frente verão nosso maravilhoso metrô cruzando velozmente nossa marginal. Não se deixem impressionar pelo fato de ele ser menor do que o de cidades como Santiago, Buenos Aires ou Cidade do México. Nós amamos nosso metrô do jeito que ele é, mesmo que inimigos tenham espalhado a informação de que investigações na Suíça e na França descobriram esquemas milionários de desvio e superfaturamento. Todos sabem que nossa dinastia é incorruptível. Se algo aconteceu, nosso Terceiro-Quinto grande líder não sabia de nada.
Não se espantem também com o tamanho dos muros e aparatos de segurança. Nossa polícia, que mata mais do que toda a polícia norte-americana junta, um dia conseguirá dar conta de todos esses bandidos. Nosso Terceiro-Quinto grande líder está pessoalmente empenhado nisso.
Alguns podem se impressionar com o fato de tanto fracasso não abalar nosso amor por nossa dinastia. É que eles ainda acham que devemos avaliar nosso líderes por aquilo que eles são capazes de fazer, mas nós descobrimos o valor do amor incondicional. Nós os amamos porque… nós os amamos. Por isso, nossa terra é o lugar da pura felicidade. O Tucanistão é a locomotiva do progresso imaginário, alimentada por choques tortos de gestão.”

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Relato do Jornalista que entrevistou Edir Macedo, o dono do império religioso.

BLOG O MURAL: O texto abaixo, do jornalista Thales Guaracy, foi publicado em seu blog.
Na abertura do templo
Na abertura do templo
Eu sou um dos pouquíssimos jornalistas que já tiveram a oportunidade de entrevistar e conhecer pessoalmente o bispo Edir Macedo. Fui recebido por ele quando trabalhava no grupo Exame, anos atrás. Ele havia acabado de comprar a TV Record e, depois de muita insistência, concordou que eu escrevesse um perfil falando dele, de sua igreja e da maneira como a organizava.
Edir chamava a atenção já no aperto de mão. Vítima de uma má-formação, ele possui em ambas as mãos o polegar diminuto e a pele escamosa; a sensação foi de que eu apertava uma rã. Parece apenas um detalhe bizarro, mas a deformidade de Edir tem um papel fundamental em sua história pessoal. Ele se culpava, ou a genes ruins, por ter tido uma filha com lábio leporino. Buscara ajuda na igreja católica, mas não encontrava consolo. Nas reuniões às quais ia, percebeu que mais ajudava as outras pessoas do que era ajudado. E resolver fundar sua própria igreja, primeiro subindo nas favelas do Rio de Janeiro, depois pregando no seu primeiro centro de culto, uma loja aonde antes funcionava uma funerária.
A igreja criada por Edir é um reflexo dele mesmo, uma panaceia que junta retalhos de outras fés. Embora sua base seja o Evangelho e a figura de Jesus, como a maioria das seitas pentecostais, Edir misturou outros elementos, da encenação do candomblé, com o exorcismo de pessoas supostamente tomadas pelo demônio, às raízes judaicas do Velho Testamento. Lá está o templo de Salomão, conhecido como o “rei da sabedoria”, na verdade uma figura controvertida na própria visão bíblica. No Livro de Salomão, a sabedoria terrena na verdade é vista criticamente, como a “vaidade das vaidades”, em oposição à simplicidade da fé.
Sem importar-se em ser um teólogo capaz de fazer sentido, Edir é na realidade um motivador de pessoas – aí reside seu talento. Essa virtude lhe permitiu não só conquistar acólitos como também ser um extraordinário formador de quadros capazes de ampliar seu raio de ação. É impressionante sua capacidade de produzir “bispos” e pastores fiéis ao seu discurso, gestual e ideias. Graças ao seu trabalho de RH, Edir fez a Universal prosperar rapidamente no Brasil e mundo afora.
É também um pastor com tino de empresário. Para mim, reclamou que a igreja era vista pela imprensa ingenuamente como uma exploradora do povo mais pobre. Para começar, dizia que não era o miserável que sustentava a Universal. Na verdade ele enxergara um mercado: o trabalhador que tinha emprego e renda, mas nenhuma perspectiva de subir na vida, por falta de oportunidade. Seu discurso sempre foi de que esse trabalhador pode conseguir mais, se tiver fé; ele tem dinheiro para pagar o dízimo, e a fé que o inspira é uma “fé de resultados” capaz de levá-lo a uma vida melhor.
A ideia de que ganhamos um lugar no Paraíso além da vida, pregada pela Igreja Católica, nunca foi suficiente para Edir. Ele sempre acreditou que a igreja tem de dar respostas para o ser humano ainda em vida. Sua igreja é pragmática e não há dúvida de que ajuda muita gente. Edir é polêmico porque é impossível medir a relação entre o benefício que sua igreja traz aos seus acólitos e o quanto do dinheiro arrecadado vai em benefício pessoal de seus bispos e pastores. Edir não vê nisso conflito de interesses, porque nunca pregou o discurso da vida ascética nem defendeu qualquer espécie de voto de pobreza.
Edir já foi preso por falsa ideologia, mas não apenas foi solto como o juiz que mandou prendê-lo (por sinal com um nome bíblico, Abrão), acabou sendo afastado para um forum na periferia de São Paulo – foi para a geladeira. O que era uma suposta defesa do público empreendida pelo justiceiro togado acabou virando, aos olhos do Judiciário, uma inútil perseguição. Não se pode subestimar as pessoas que seguem a Universal, que têm o direito de escolher, apoiar, pagar e professar a fé que quiserem, por mais descabida que possa parecer. E assim Edir vai conseguindo edificar o seu império, do qual o Tempo de Salomão, construção de proporções bíblicas numa das zonas mais abandonadas do centro de São Paulo, é apenas o mais novo, extravagante e significativo símbolo.

terça-feira, 5 de agosto de 2014

Felipão e este milionário futebol dos “professores

BLOG O MURAL: Blog do Kotscho
tecnicos Felipão e este milionário futebol dos professores
No capengante futebol brasileiro, dentro e fora de campo, com clubes sempre endividados, alguns quase falidos, pedindo socorro ao governo, e estádios semidesertos, a CBF e os "professores" da bola nadam em dinheiro. Ninguém deveria se surpreender com os R$ 4,1 milhões pagos pelo generoso José Maria Marin a Felipão por ter sido mandado embora da seleção, depois do vexame na Copa do Mundo (ver mais no blog do colega Cosme Rímoli).
Felipão e o coordenador Carlos Alberto Parreira ganhavam, cada um pouco, mais de R$ 900 mil por mês. Pode parecer muito para quem vive de salário, mas estes valores estratosféricos não constituem exceção nos nossos clubes, onde os "professores" não ganham muito menos do que isso, e nenhum dos "treinadores de ponta", sempre os mesmos, há muitos anos, ganha abaixo de R$ 500 mil.
Na maioria dos casos, eles ganham mais do que as estrelas do time. Pato, o jogador mais bem pago do país, que marcou apenas três gols em 16 jogos pelo São Paulo, ganha R$ 800 mil por mês (metade do salário ainda pago pelo Corinthians, que o emprestou ao time do Morumbi).
Eles se revezam no comando dos maiores clubes do país e são os principais responsáveis pelo futebolzinho mostrado no Brasileirão, com a honrosa exceção do Cruzeiro, de Marcelo Oliveira, que não faz parte da dança dos famosos e nunca foi cogitado para treinar a seleção.
Em seu comentário de terça-feira na CBN, antes da revelação de que Felipão ganhou esta fortuna na loteria esportiva da CBF, e depois do velho "professor" gaúcho acertar a volta ao Grêmio, o amigo Juca Kfouri chamou a atenção para um fato, ao mesmo tempo pitoresco e triste: há 19 anos, Felipão já era técnico do Grêmio; Luxemburgo, que acaba de retornar à Gávea, treinava o Flamengo; Abel Braga dirigia o Internacional, onde está de novo, e Muricy Ramalho era a novidade no São Paulo.
Precisa dizer mais alguma coisa sobre as razões da mesmice modorrenta mostrada em campo neste Brasileirão, que dá sono quando o Cruzeiro não joga? Parece que o discreto Marcelo Oliveira foi o único técnico brasileiro que assistiu à Copa no Brasil e entendeu alguma coisa. É por isso, que os maiores clubes do mundo levam nossos melhores jogadores embora e ninguém se interessa em contratar os milionários "professores", que vivem num mundinho à parte.
Nem técnicos são, na verdade, quanto mais professores, mas apenas folclóricos treineiros, que ficam se esgoelando à beira do gramado, xingando o juiz e os erros dos jogadores que não seguem seus "ensinamentos". Fazem apenas cena para a torcida, como se seus gritos  fossem ouvidos e fizessem alguma diferença em campo.
Ninguém, por exemplo, é mais são-paulino, do que o Muricy. Por isso, a torcida tricolor, inclusive eu, sempre pedem a sua volta quando o time vai mal, o que não tem sido raro. E neste seu novo retorno ao Morumbi o time continua mal, apesar do elenco de grandes craques, o maior do futebol brasileiro, que tem à disposição. Pergunto: tanto ele como os demais "professores" aqui citados fizeram quantos cursos de especialização e estágios nos grandes centros de treinamento do exterior nos últimos anos? Que novas táticas e técnicas desenvolveram?
É sempre mais do mesmo, e assim a gente entende melhor porque a Alemanha na Copa meteu 7 a 1 na nossa seleção e só não fez mais porque ficou com pena dos rapazes assustados e perdidos em campo com aquela camisa amarela, que antigamente metia medo nos adversários.

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

São Paulo é um outro planeta

BLOG O MURAL: Blog do Motta:

São Paulo é um outro planeta

Não, não é um deserto, é a represa do Jaguari, em São Paulo
(Foto: Fernanda Carvalho/Fotos Públicas

Embora morando a 150 km da capital paulista há seis meses, ainda procuro, sempre que posso, ter notícias da vida na metrópole. 

E pelo noticiário dos jornalões fico sabendo que os bares da badalada Vila Madalena já estão servindo bebidas em copos de plástico, por causa da falta d'água. Também leio que várias outras regiões da cidade sofrem do mesmo problema. 
Mas o interessante em tudo isso - diria até o contraditório - é que, segundo os jornalões, tudo parece estar na mais perfeita normalidade em São Paulo no que refere ao abastecimento hídrico.

A imprensa paulista garante que os problemas que estão sendo relatados são "pontuais".
E que quando as torneiras secam isso não significa racionamento, mas sim "restrição" - ah, as armadilhas da língua portuguesa...
Há muita gente que acredita nas notícias dos jornais, que leva, mesmo, a ferro e fogo aquilo que lê ou ouve nos telejornais ou nos Datenas que pululam pelas emissoras.
Mal sabem essas pessoas como os jornais são feitos, como as notícias são editadas, como os títulos podem ser distorcidos para que um fato negativo vire a mais espetacular novidade.
Como no caso dessa tragédia que representa o colapso do abastecimento de água em São Paulo.
É realmente impressionante a capacidade do governador Geraldo Alckmin se safar das mais incômodas situações, "tirar o seu da reta", como se diz popularmente.
Ele nunca tem culpa de nada, está sempre prometendo apurar tudo, punir todos os responsáveis pelas estripulias...
E os jornalões acreditam em cada palavra sua, em cada disparate que ele diz.
O governo Alckmin, o futuro comprovará, é um desastre sob todos os aspectos - administrativo, moral e ético.
Pelo visto, porém, os paulistas adoram passar por fortes emoções e estão prestes a elegê-lo novamente.
Non ducor, duco...