Uma frase saída do livro que está lendo
atualmente e que me levou por um caminho enorme de recordações e de perguntas
que realmente não têm resposta.
Lembro-me que quando comecei a ser consciente
daquilo que meus pais tinham feito e especialmente sofrido, ao enfrentar a
ditadura militar, vinha-me uma pergunta à minha mente: será que se eu vivesse
algo assim teria essa mesma coragem de colocar a luta política acima do
conforto e do bem estar individual? Teria coragem de enfrentar dor e injustiça
em nome da democracia?
Eu não tenho essa resposta, mas relembrar
essas perguntas me fez pensar em muitas outras que talvez, em meio a toda essa
balbúrdia, merecem ser consideradas...
Você seria perseverante o suficiente para
andar todos os dias 14 km pelo sertão do Ceará para poder frequentar uma
escola? Teria a coragem suficiente de escrever aos seus pais uma carta de
despedida e partir para a selva amazônica buscando construir uma forma de
resistência a um regime militar? Conseguiria aguentar torturas frequentes e
constantes, como pau de arara, queimaduras, choques e afogamentos sem perder a
cabeça e partir para a delação? Encontraria forças para presenciar sua futura
companheira de vida e de amor ser torturada na sua frente? E seria perseverante
o suficiente ao esperar 5 anos dentro de uma prisão até que o regime político
de seu país lhe desse a liberdade?
E sigo...
Divulgação |
Meu pai
teve coragem de fazer tudo isso e muito mais. São mais de 40 anos dedicados à
luta política. Nunca, jamais para benefício pessoal. Hoje e sempre, empenhado
em defender aquilo que acredita e que eu ouvi de sua boca pela primeira vez aos
8 anos de idade quando reclamava de sua ausência: a única coisa que quero, Mimi, é melhorar a vida das pessoas...
Este seu desejo, que tanto me fez e me faz
sentir um enorme orgulho de ser filha de quem sou, não foi o suficiente para
que meu pai pudesse ter sua trajetória defendida. Não foi o suficiente para que
ganhasse o respeito dos meios de comunicação de nosso Brasil, meios esses que
deveriam ser olhados através de outras tantas perguntas...
Você teria coragem de assumir como profissão
a manipulação de informações e a especulação? Se sentiria feliz, praticamente
em êxtase, em poder noticiar a tragédia de um político honrado? Acharia uma
excelente ideia congregar 200 pessoas na porta de uma casa familiar em nome de
causar um pânico na televisão? Teria coragem de mandar um fotógrafo às portas
de um hospital no dia de um político realizar um procedimento cardíaco?
Dedicaria suas energias a colocar-se em dia de eleição a falar, com a boca
colada na orelha de uma pessoa, sobre o medo a uma prisão que essa mesma pessoa
já vivenciou nos piores anos do Brasil?
Pois os meios de comunicação desse nosso país
sim tiveram coragem de fazer isso tudo e muito mais.
Hoje, nesse dia tão triste, pode parecer que
ganharam, que seus objetivos foram alcançados. Mas ao encontrar-me com meu pai
e sua disposição para lutar e se defender, vejo que apenas deram forças para
que esse genuíno homem possa continuar sua história de garra, HONESTIDADE e
defesa daquilo que sempre acreditou.
Nossa família entra agora em um período de
incertezas. Não sabemos o que virá e para que seja possível aguentar o que vem
pela frente pedimos encarecidamente o seu apoio. Seja divulgando esse e/ou outros
textos que existem em apoio ao meu pai, seja ajudando no cuidado a duas
crianças de 4 e 5 anos que idolatram o avô e que talvez tenham que ficar sem
sua presença, seja simplesmente mandando uma palavra de carinho. Nesse momento
qualquer atitude, qualquer pequeno gesto nos ajuda, nos fortalece e nos
alimenta para ajudar meu pai.
Ele lutará até o fim pela defesa de sua
inocência. Não ficará de braços cruzados aceitando aquilo que a mídia e alguns
setores da política brasileira querem que todos acreditem e, marca de sua
trajetória, está muito bem e muito firme neste propósito, o de defesa de sua
INOCÊNCIA e de sua HONESTIDADE. Vocês que aqui nos leem sabem de nossa vida, de
nossos princípios e de nossos valores. E sabem que, agora, em um dos momentos
mais difíceis de nossa vida, reconhecemos aqui humildemente a ajuda que
precisamos de todos, para que possamos seguir em frente.
Com toda minha gratidão, amor e carinho,
Miruna
Genoino
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