quarta-feira, 6 de junho de 2012

Projeto de Educação é destaque na região. Confira!

Alda e Josenias recebem a visita do programa Rede Família-Escola - Foto: Emídio Marques
BLOG O MURAL: Quando Jaqueline nasceu, os pais Josenias e Alda já haviam parado os estudos há muito tempo. Naturais da cidade de Jaguaquara, interior da Bahia, a família vive há 15 anos na zona rural de Porto Feliz, onde foram em busca de melhores oportunidades de vida. Mesmo sem terminar o primeiro grau, o casal reconhece a importância da educação e sonha com o diploma de graduação da filha, que aos 14 anos já está decidida em que profissão seguir: advocacia. "No futuro me vejo formada, trabalhando com o que eu gosto. Quero ser advogada ou juíza. Acho importante que a gente converse sobre isso desde já", comenta a menina.
Juliana Gutierres, coordenadora pedagógica - Foto: Emídio Marques

Os Reis Santos são uma das 315 famílias da zona rural de Porto Feliz a participar do programa "Rede Família-Escola", uma iniciativa da Secretaria de Educação, Cultura e Esportes em parceria com a Planeta Educação, especializada em soluções educacionais. O objetivo do projeto é aproximar a família da escola, com visitas à casa dos estudantes e orientações aos pais e responsáveis sobre a importância da participação na vida escolar dos alunos.

De acordo com a coordenadora técnica pedagógica de apoio ao sistema educacional da Secretaria, Juliana Moura Gutierrez, o que mais dificulta o contato entre os pais da zona rural e as instituições de ensino é a distância. "Muitas mães não conseguem fazer o acompanhamento adequado da escola, principalmente na área rural, onde a maioria dos pais são caseiros em chácaras e trabalham no final de semana, o que também dificulta a presença em reuniões na escola", observa. Além disso, no trajeto escolar, os estudantes utilizam transporte público ou ônibus fretado, afastando de vez o contato das famílias com as escolas.
Professora Ana Teresa Nalva - Foto: Emídio Marques

O programa

A escola de Jaqueline, EMEF Profª Maria Aparecida Fernandes Leite, é considerada modelo na cidade, pelo porte e projetos escolares. As famílias de 282 das 630 crianças que estudam lá já receberam a visita do programa este ano. A meta é visitar todas até o final do ano. Para a diretora Valéria Maria Pires Tuani, desde que o programa foi implementado na escola -há pouco mais de um ano -houve significativas melhoras no relacionamento do aluno com a família e a escola.

A professora de Jaqueline, Ana Teresa Nalva, afirma que a mudança no relacionamento também reflete na sala de aula. "Com o retorno da visita, é possível entender algumas dificuldades que a criança tem dentro da classe, porque podemos entender todo o contexto da família, a rotina de estudos e o apoio dos pais ou a falta dele", conta.

Os coordenadores do programa em Porto Feliz, Daniel Val e Michele Andrea Guebert destacam que existem inclusive mudanças estruturais, em âmbito familiar e escolar. "Num dos casos de uma das escolas, após as visitas e conversas com os pais, houve mudanças de trânsito e estabelecimentos que prejudicavam o rendimento escolar. Num outro caso, o aluno apresentava dificuldades na escola e, através da visita, declarou ser usuário de drogas e pediu ajuda. Hoje ele está fazendo tratamento em Sorocaba", contou Michele.
Valéria Tuani, diretora - Foto: Emídio Marques

Os 12 agentes educacionais do programa fazem cerca de três visitas por dia. São eles que entram em contato com a escola, em busca de informações sobre a vida escolar das crianças, marcam horário, visitam as casas e retornam com as informações para a coordenação. "Tornou-se um elo entre a escola e a família", afirma a diretora.

A visita

Três dos seis filhos de Alda estavam presentes no momento da visita: Douglas, 13; e Igor, 7; além de Jaqueline e puderam contar as experiências escolares. Todos eles estudam na mesma escola, exceto o casal de filhos mais velhos, de 20 e 18 anos, que já completaram o Ensino Médio e trabalham. Foi durante a visita que Jaqueline demonstrou o interesse por Direito. A troca cúmplice de olhares comprovaram a influência da família. "Meu pai sempre diz que eu falo demais e que gosto muito de argumentar todos os assuntos", comentou.

O pai Josenias, que parou os estudos por vergonha, apoia os desejos da menina. "Na minha época era mais complicado. A gente vivia numa situação muito difícil. Eu só tinha um conjunto de roupa para ir à escola e, quando tinha festa, ia com a mesma roupa. Parei por vergonha. Com eles não tem que ser assim. O que mais quero é que sigam os sonhos deles", declarou. A iniciativa acordou um antigo desejo de Josenias: voltar a estudar. "Sei ler e escrever um pouco, mas se eu voltasse a estudar iria me ajudar em muita coisa. Eu explico uma planta de casa rapidinho, preciso de uma ajuda às vezes, com algumas palavras", lamenta.

Ele sempre foi pedreiro e foi por causa de uma obra que veio parar na cidade. Além das obras, o casal trabalha na manutenção de duas chácaras. "Nunca gostamos de viver na cidade. Sempre vivemos na zona rural", conta Josenias, na casa construída por ele mesmo. "Consegui construir tudo só aos finais de semana", orgulha-se. Por não ter concluído os estudos, o casal sabe da importância da educação e afirma que jamais permitiriam que o mesmo acontecesse aos filhos. "De certa forma, a gente acha sabe que fez falta na vida da gente. Se aparecer um emprego numa fábrica, por exemplo, não vou poder me candidatar porque não tenho estudo - e não quero isso pra eles", declara a mãe.

Alda afirma que o diálogo está sempre aberto, mas aumentou por causa das visitas do programa. "A relação melhorou bastante. A gente sabe de tudo o que acontece com eles na escola e pode acompanhar daqui de casa", finalizou.




Fonte: Jornal Cruzeiro do Sul - por Samira Galli
http://www.cruzeirodosul.inf.br/acessarmateria.jsf?id=392911

Sem comentários: