"O governo de São Paulo não colocará um tostão no estádio do Corinthians", jurou Geraldo Alckmin, em entrevista concedida no mês passado aos meus colegas Heródoto Barbeiro e Thalita Oliveira, no Jornal da Record News, onde eu trabalho. "Nenhum tostão!", repetiu, para ninguém ter dúvidas.
Pois no circo armado no canteiro de obras do Itaquerão, para espanto de muita gente que ainda acredita na palavra dos políticos, o governador anunciou solenemente que os cofres estaduais entrarão com cerca de R$ 70 milhões para pagar as estruturas provisórias necessárias à ampliação de 20 mil lugares no estádio exigidas pela Fifa para abrigar o jogo de abertura da Copa de 2014.
O capilé de Alckmin pode até parecer pouco diante dos R$ 420 milhões em isenções fiscais ofertados pelo prefeito Gilberto Kassab e outros R$ 500 milhões que sairão do BNDES para financiar a obra. Ou seja, pelas minhas contas, o Corinthians e a construtora Odebrechet, a tal da iniciativa privada, não vão entrar com nenhum centavo e ainda é capaz de Andrés Sanchez ter lucro, já que as obras (sem "aditivos") estão orçadas em R$ 820 milhões.
Como sempre acontece quando surge algum assunto espinhoso que gera uma cobrança ao governo estadual, tão discretamente como apareceu Alckmin voltou ao seu gabinete no Palácio dos Bandeirantes. Seus assessores passaram o resto do dia tentando explicar a quebra da promessa do governador.
Em resumo, alegaram que, como as estruturas da arquibancada adicional são provisórias, o governo poderá retirá-las após a Copa e levá-las para outro lugar. Para onde? Vai construir um outro estádio para colocar os 20 mil assentos? Levá-los para o Parque do Ibirapuera? Montar uma arquibancada permanente para assistirmos aos acidentes e assaltos na Nova Marginal? Ou simplesmente vender tudo para o ferro velho, como sugere o Cosme Rímoli, meu colega de TV e de portal.
Por falar nisso, até agora não se ouviu uma palavra do governador Geraldo Alckmin sobre os "aditivos" de R$ 750 milhões já liberados pela Dersa para as obras da Nova Marginal, inauguradas ainda na administração de José Serra. Inicialmente orçada em R$ 1 bilhão, a Nova Marginal já ficou 75% mais cara e ainda não está concluída.
De fala mansa, modos afáveis e poucas palavras, Geraldo Alckmin era chamado de Geraldinho quando surgiu no cenário político, nos anos 1990, como vice de Mário Covas, de quem seria sucessor. Depois, nas diferentes campanhas eleitorais, de prefeito a presidente da República, os marqueteiros o chamavam ora de Alckmin, ora de Geraldo, a ponto de hoje já não sabermos mais como devemos nos referir a ele.
Geraldinho, Alckmin ou Geraldo tem o perfil oposto ao do antigo governador Adhemar de Barros, um folclórico tipo populista que gostava de repetir: "Podem falar mal, mas falem de mim".
Sempre discreto e formal, o governador prefere que não falem nada dele, nem bem, nem mal e, se assim os jornalistas permitirem, também prefere governar em silêncio sem falar nada.
Desde janeiro deste ano, a equipe da revista "Brasileiros", onde também trabalho, aguarda um retorno da sua assessoria de imprensa para um pedido de entrevista que fizemos. A resposta não é sim nem não, muito pelo contrário, vem sempre no gerúndio, não tem data prevista.
Ao reler os últimos posts do Balaio, vejo que os assuntos pulam de Brasília, das intermináveis crises no governo federal, diretamente para os problemas da cidade de São Paulo, sem passar pelo governo estadual. Mais irrelevante, só a Assembléia Legislativa de São Paulo, que ninguém sabe se ainda está funcionando.
Alckmin só foi notícia uma vez por aqui desde que o Balaio estreou no R7, há dois meses, e mesmo assim aconteceu por acaso. Numa sexta-feira, 10 de junho, já tinha encerrado o expediente quando fiquei sabendo no bar que o governador Geraldo Alckmin havia viajado para o exterior e deixado o vice Guilherme Afif em seu lugar.
Não tinha visto esta notícia em lugar nenhum: Alckmin estava no México numa viagem particular para visitar seus recém-nascidos netos gêmeos. Durante quatro dias, sem ninguém ficar sabendo, São Paulo foi governada por Afif, que tinha entrado em rota de colisão com o governador ao sair do aliado DEM para criar uma dissidência, o PDS. O fato acabou sendo registrado apenas neste blog.
Ninguém sabe até hoje o que Alckmin pensa realmente sobre a criação do PDS de Kassab e Afif, que muda a relação de forças na política paulista. Alguém sabe qual é o candidato preferido de Alckmin para a sucessão de Kassab? A opinião dele sobre o voto distrital defendido por José Serra? E a disputa de Serra com Aécio pelo controle do PSDB? O que pensa o governador sobre o novo Código Florestal, a crise no Ministério dos Transportes, os rumos do governo Dilma, a nova divisão de royalties do petróleo, as obras da Copa do Mundo, as candidatas a Miss Brasil?
Por onde andas, Geraldo? Diga lá, o povo quer saber o que o seu governador pensa e o que anda fazendo. Apareça.
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