sábado, 4 de abril de 2009

G-20: avanço maior só com mobilização mundial

BLOG DO U: Reunião do G-20, o encontro dos países desenvolvidos e dos emergentes encerrado ontem em Londres, não pode ser vista só pelos resultados aparentes. Como já disse antes, é um processo cujos resultados dependem dos países emergentes e dos BRICS - Brasil, Rússia, China e Índia; da força da mobilização em nível internacional por mudanças de fato na regulação e supervisão do sistema financeiro mundial; das negociações de Doha; e da remodelagem dos organismos de poder no mundo, incluindo FMI, BIRD, OMC, e Nações Unidas.


O US$ 1,1 trilhão para empréstimos e créditos e os US$ 250 bilhões - direito de saque do Fundo para o comércio mundial, inclusive para os países pobres - por enquanto são promessas. Desse US$ 1,1 trilhão, apenas US$ 259,5 bilhões estão assegurados.Não pode passar despercebida a falta de avanços no que diz respeito aos "hedge funds" e as agências de classificação de riscos que, por pressão dos Estados Unidos, não foram submetidas a uma nova regulação e supervisão.


Fora o fato de que três agências norteamericanas controlam a avaliação de risco no mundo, sendo responsáveis pela farra dos "hedge funds" e do subprime.Nessa reunião do G-20 ficaram de fora, para decisão em julho, as negociações sobre o protecionismo, que cresceu durante a crise e ameaça ser usado agora pelos países desenvolvidos a pretexto de combater a poluição. Houve a decisão positiva de colocar de US$ 10 a US$ 15 bilhões de dólares à disposição para o combate ao desmatamento e para a preservação das florestas no mundo.


Resultado é uma meia decisão conciliatória


Na prática, tivemos uma meia decisão, uma conciliação: nem a posição americana de medidas fiscais e monetárias em nível de cada país e não de abrangência mundial; nem a posição européia de decisões firmes e objetivas contra a especulação e suas causas, neste caso, com a aprovação de uma regulação e supervisão internacional, dando conseqüência ao Fórum de Estabilização Financeira e ao Comitê de Supervisão de Basiléia.


Como vemos, apesar da mensagem política da reunião do G 20, ainda não foram abordados os verdadeiros problemas: a falência dos bancos americanos e europeus, a regulação e supervisão do sistema, o desequilíbrio entre os países deficitários (Estados Unidos à frente) e os superavitários (Alemanha e China na liderança).


Faltou vontade política para enfrentar o problema energético e ambiental e a grave questão do protecionismo. Fica a expectativa de mais crédito e mais medidas fiscais e monetárias, ações anticíclicas que dependem da evolução da crise e da eficácia das providências já adotadas nos Estados Unidos e na Europa.


Para os países emergentes e os BRICs, a reunião de Londres deve ser vista como o primeiro round de uma longa luta para reformar o sistema de poder e de comércio no mundo, submeter o capital financeiro à regulação e supervisão, e colocá-lo a serviço do desenvolvimento, sem o que de nada adiantarão empréstimos e créditos. De resto, um filme a que já assistimos.A conta da liberalidade monetária e fiscal dos países desenvolvidos será paga mais cedo ou mais tarde com mais impostos e mais inflação. O que não pode acontecer é que esse pagamento recaia mais uma vez nas costas dos países emergentes.


Estes já são vítimas dos graves erros e disfunções das economias centrais, incapazes de crescer a não ser pela especulação e pelas bolhas eletrônicas e imobiliárias, cuja última versão foi com os derivativos que custa ao mundo nesse momento recessão, desemprego e aumento da pobreza.
por Zé Dirceu.

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