quinta-feira, 21 de abril de 2011

Um Larry Rother para Aécio Neves



BLOG O MURAL: O assunto mais comentado na Internet foi a apreensão da carteira de CNH do Senador mineiro Aécio Neves, mas ficou restrito a Internet, pois os veículos da mídia de alcance nacional no máximo falou do assunto com muita reserva.



A pergunta que faço ao leitores deste blog é. E se o mesmo tivesse ocorrido com Mercadante, Marta Suplicy, ou até o próprio Lula, como seria a cobertura?



Alguém se lembra do caso do repórter americano que disse que Lula era dependente do álcool, ouve uma reação em cadeia nacional porque o país queria expulsar um jornalista que tinha feito uma matéria do qual ninguém poderia ignorar que o presidente da republica federetavia do Brasil, toma cachaça. Quanto ipocresia.



Abaixo um comentario do Eduardo do blog cidadania.com vale apena ler.


Um dos fatores que furtaram da grande mídia o poder de influir na decisão de voto dos brasileiros fica evidente no recente caso envolvendo o ex-governador de Minas Gerais e atual senador tucano por esse Estado, Aécio Neves, flagrado dirigindo bêbado pelas ruas do Rio de Janeiro.


O mais interessante é que essa grande mídia, infestada por colunistas que cheiram mais do que bebem e que transformou em “fato” invenções jamais comprovadas de que o ex-presidente Lula seria alcoólatra, por Aécio ser tucano não diz um A sobre suas bebedeiras públicas, sem falar nos boatos sobre uso de cocaína.


Em maio de 2004, o então correspondente do jornal The New York Times no Brasil, Larry Rother, publicou extenso artigo acusando o Lula de ser alcoólatra e dizendo que a “sociedade” estaria “preocupada” com seu “alcoolismo” em meio aos seguidos “fracassos” de seu governo – vejam só.


Aproveitando o embalo, poucos dias depois, em 16 de maio de 2004, a Folha de São Paulo chegou a publicar matéria com chamada na primeira página sob o seguinte título: “Alcoolismo marca três gerações dos Silva”. Acredite quem quiser, o jornal disse que o alcoolismo de Lula seria genético…


O artigo de Larry Rother foi uma armação entre o correspondente e o colunista da Veja Diogo Mainardi e serviria tanto para a oposição quanto para a imprensa, nos anos que se seguiriam, tentarem desmoralizar Lula para impedir que se reelegesse em 2006.


Ontem (segunda-feira), discuti longamente o assunto pelo Twitter com um dos maiores detratores de Lula que conheço, o ex-diretor de Redação do jornal O Estado de São Paulo Sandro Vaia, que, se não me engano, foi sucessor direto, naquele jornal, de um homem que se tornou o símbolo da grande imprensa brasileira, o editor-assassino Pimenta Neves, que jamais foi preso por ter assassinado uma namorada com um tiro nas costas. Vaia nega que a mídia tenha acusado Lula de alcoolismo (!).


A diferença de tratamento que a mídia dá a tucanos e petistas, no caso das drogas lícitas e ilícitas (como álcool, cocaína ou maconha) ganha uma roupagem toda especial. Parece haver uma obsessão midiática em acusar petistas de usarem ou estimularem o uso dessas drogas.


Vejam só os casos de Paulo Teixeira, deputado federal petista por São Paulo, e Fernando Henrique Cardoso. Ambos têm praticamente a mesma opinião sobre as drogas, sendo favoráveis à descriminalização da maconha. Apesar disso, a opinião de FHC é tratada com respeito e discrição pela mesma Folha de São Paulo que acaba de publicar manchete de primeira página acusando Teixeira de estimular uso da maconha.


A estratégia bolsonarista de negar os excessos que se diz publicamente vai se tornando uma característica da direita. O ex-editor do Estadão, supracitado, teimou comigo pelo Twitter que a mídia jamais acusou Lula de ser alcoólatra. Contudo, o próprio Larry Rother, naquele seu artigo, diz claramente que a mídia é que vivia espalhando acusações de alcoolismo do petista.


Eis o que disse Rother em seu já “histórico” artigo acusando Lula:


Sempre que possível, a imprensa brasileira publica fotos do presidente com os olhos avermelhados e as bochechas coradas e constantemente fazem referências tanto aos churrascos de fim de semana na residência presidencial, onde a bebida corre solta, como aos eventos oficiais onde Da Silva parece nunca estar sem um copo de bebida nas mãos.


‘Eu tenho um conselho para o Lula’, escreveu em março [de 2004] o crítico mordaz Diogo Mainardi, colunista da ‘Veja’, a revista mais importante do país, enumerando uma lista de reportagens contendo referências ao hábito do presidente. ‘Pare de beber em público’, ele aconselhou, acrescentando que o presidente tornou-se ‘o maior garoto-propaganda para a indústria da bebida’ com seu notório consumo de álcool.


Uma semana depois, a mesma revista publicou uma carta de um leitor preocupado com o ‘alcoolismo de Lula’ e seu efeito na habilidade do presidente de governar. (…)


Quem será o Larry Rother ou Diogo Mainardi de Aécio Neves? Sim, porque se existiram para Lula, contra quem não havia provas de alcoolismo, teriam que existir para Aécio, que acaba de ser flagrado dirigindo bêbado no Rio. Além de haver provas contra o tucano, a prova ainda inclui um crime relacionado à bebida.


Bem, podem esperar sentados. Nunca mais a mídia tocará no assunto do alcoolismo comprovado de Aécio Neves, à diferença do que fez com o suposto alcoolismo de Lula.


Só que a sociedade percebe isso. É tão escancarado que, na hora de votar, a maioria absoluta dos brasileiros, que tantas vezes votara como queriam Folhas, Estadões e Vejas, agora lhes dá uma banana.


Esse caso do alcoolismo comprovado de Aécio e a diferença de tratamento para o alcoolismo não-comprovado de Lula só ajuda as pessoas a entenderem como a mídia é desonesta e como não deve ser levada a sério quando trata de política. Por isso, quando tem acusação verdadeira a fazer, o povo ignora.


Abaixo, na íntegra, o artigo de Larry Rother publicado em maio de 2004 no jornal americano The New York Times.


Hábito de bebericar do presidente vira preocupação nacional


LARRY ROTHER


DO “NEW YORK TIMES”, EM BRASÍLIA - 16/05/2004


O presidente Luiz Inácio Lula da Silva nunca escondeu sua inclinação por um copo de cerveja, uma dose de uísque ou, melhor ainda, um copinho de cachaça, o potente destilado brasileiro feito de cana-de-açúcar. Mas alguns de seus conterrâneos começam a se perguntar se sua preferência por bebidas fortes não está afetando suu performance no cargo.


Nos últimos meses, o governo esquerdista de Da Silva tem sido assaltado por uma crise depois da outra, de escândalos de corrupção ao fracasso de programas sociais cruciais.


O presidente tem ficado longe do alcance público nesses casos e tem deixado seus assessores encarregarem-se da maior parte do levantamento de peso.


Essa atitude tem levantado especulação sobre se o seu aparente desengajamento e passividade podem de alguma forma estar relacionados a seu apetite por álcool. Seus apoiadores, entretanto, negam as acusações de excesso de bebida.


Apesar de líderes políticos e jornalistas falarem cada vez mais entre si sobre o consumo de bebidas de Da Silva, poucos estão dispostos a expressarem suas suspeitas em público ou oficialmente. Uma exceção é Leonel Brizola, líder do esquerdista PDT, que foi companheiro de Lula na eleição de 1998, mas agora está preocupado que o presidente esteja “destruindo os neurônios de seu cérebro”.


“Quando eu fui candidato a vice-presidente de Lula, ele bebia muito”, disse Brizola, agora um crítico do governo, em um discurso recente. “Eu o avisei que bebidas destiladas são perigosas. Mas ele não me escutou e, de acordo com que estão dizendo, continua a beber.”


Durante uma entrevista no Rio de Janeiro em meados de abril, Brizola argumentou sobre a preocupação que ele havia expressado a Da Silva e que o que ele dissera ter sido desconsiderado. “Eu disse a ele: “Lula, eu sou seu amigo e camarada, e você precisa controlar isso’”, ele lembra.


“Não, não há perigo, eu tenho isso sob controle”, Brizola lembra da resposta de Da Silva, imitando sua voz rouca. “Ele resistiu, ele é um resistente”, Brizola continuou. “Mas ele tinha aquele problema. Se eu bebesse como ele, estaria frito.”


Os porta-vozes de Da Silva recusaram-se a discutir oficialmente os hábitos de beber do presidente, afirmando que não iriam dar crédito a acusações infundadas com uma resposta oficial. Em uma breve mensagem por e-mail que respondia a um pedido de comentário, afirmaram que a especulação que Da Silva bebe em excesso como “uma mistura de preconceito, desinformação e má-fé”.


Da Silva, um metalúrgico de 58 anos, mostrou ser um homem de apetites e impulsos fortes, o que contribui para seu apelo popular. Com um misto de compaixão e simpatia, os brasileiros têm assistido a seus esforços para não fumar em público, a seus flertes com atrizes em eventos públicos e à sua batalha contínua para evitar comidas gordurosas -que fizeram seu peso aumentar muito em pouco tempo desde que assumiu o cargo em janeiro de 2003.


Além de Brizola, líderes políticos e a mídia parecem preferir lidar com isso de forma mais sutil e indireta, mas com com um certo apetite. Sempre que possível, a imprensa brasileira publica fotos do presidente com os olhos avermelhados e as bochechas coradas e constantemente fazem referências tanto aos churrascos de fim de semana na residência presidencial, onde a bebida corre solta, como aos eventos oficiais onde Da Silva parece nunca estar sem um copo de bebida nas mãos.


“Eu tenho um conselho para o Lula”, escreveu em março o crítico mordaz Diogo Mainardi, colunista da “Veja”, a revista mais importante do país, enumerando uma lista de reportagens contendo referências ao hábito do presidente. “Pare de beber em público”, ele aconselhou, acrescentando que o presidente tornou-se “o maior garoto-propaganda para a indústria da bebida” com seu notório consumo de álcool.


Uma semana depois, a mesma revista publicou uma carta de um leitor preocupado com o “alcoolismo de Lula” e seu efeito na habilidade do presidente de governar.


Apesar de alguns sites estarem reclamando de “nosso presidente alcoólico”, foi a primeira vez que a grande imprensa nacional referiu-se a da Silva desta maneira.


Historicamente, os brasileiros têm razão para estarem preocupados com sinais de hábitos de abuso do álcool de seus presidentes. Jânio Quadros, eleito em 1960, foi um bebedor manifesto que um dia declarou: “Bebo porque é líquido”.Sua inesperada renúncia, menos de um mês após ter assumido -período considerado uma maratona de excessos- iniciou um período de instabilidade política que levou a um golpe de Estado, em 1964, e a 20 anos de uma rígida ditadura militar.


Independentemente se Da Silva tem um problema com bebida ou não, o tema tem se infiltrado na consciência pública e se tornado alvo de piadas.


Quando o governo gastou US$ 56 milhões no início do ano para comprar um novo avião presidencial, por exemplo, o colunista Claudio Humberto, uma espécie de Matt Drudge da política brasileira, fez um concurso para dar um apelido à aeronave. Uma das escolhas vencedoras, em alusão de que o avião presidencial americano é chamado de Força Aérea Um, sugeriu que o nome do jato de Da Silva deveria ser “”Pirassununga 51″ -nome de uma marca popular de cachaça no Brasil.


Outra sugestão foi “Movido a Álcool”, um trocadilho com o plano governamental de incentivar o uso de etanol em carros.


Especulação sobre os hábitos de bebida do presidente tem sido alimentada por várias gafes e passos em falso que ele tem feito em público. Como candidato, ele uma vez se referiu aos moradores de uma cidade considerada uma abrigo para os gays chamando-a de “pólo exportador de veados”. Como presidente, suas escorregadas em público continuaram e se tornaram parte do folclore político brasileiros.


Numa cerimônia aqui em fevereiro para anunciar um grande investimento, por exemplo, Da Silva duas vezes se referiu ao presidente da General Motors, Richard Wagoner, como presidente da Mercedes-Benz. Em outubro, num dia em homenagem aos idosos do país, Da Silva disse a eles: “Quando vocês se aposentarem, não fiquem em caso aborrecendo sua família. Encontrem alguma coisa para fazer”.


No exterior, Da Silva também tropeçou ou foi mal aconselhado. Em visita ao Oriente Médio no ano passado, ele imitou um sotaque árabe falando em português, inclusive com pronúncias erradas. Em Windhoek, na Namíbia, o presidente disse que a cidade parecia tão limpa que “não parece que está num país africano.”


A equipe de Da Silva e seus simpatizantes respondem que esses escorregões são apenas ocasionais e previsíveis para alguém que gosta de falar de improviso e não tem nada a ver com seu consumo de álcool, que eles descrevem como sempre moderado. Para eles, Da Silva é visto de um padrão diferente -e injusto- com relação a seus antecessores porque ele é o primeiro presidente brasileiro vindo da classe trabalhadora e estudou apenas até a quinta série.


“Qualquer um que já tenha estado em recepções formais ou informais em Brasília testemunhou presidentes bebericando uma dose de uísque”, escreveu recentemente o colunista Ali Kamel, no diário carioca “O Globo”. “”Mas sobre o fato nada se leu a respeito dos outros presidentes, somente de Lula. Isso cheira a preconceito.”


Da Silva nasceu em uma família pobre, num dos Estados mais pobres do país e passou anos liderando sindicatos de trabalhadores, um ambiente famoso pelo alto consumo de álcool. Relatos da imprensa brasileira têm repetidamente descrito o pai do presidente, Aristides -o qual ele pouco conheceu e morreu em 1978- como um alcólatra que maltratava suas crianças.


Histórias sobre episódios de beber envolvendo Da Silva são abundantes. Depois de uma noite na cidade onde ele fora membro do Congresso, no final dos anos 1980, Da Silva saiu do elevador no andar errado do prédio onde morava na época e tentou arrombar a porta de um apartamento que ele imaginava ser o seu, de acordo com políticos e jornalistas aqui, incluindo alguns que moravam no mesmo edifício.


“Sob Lula, a caipirinha virou “bebida nacional” por decreto presidencial”, escreveu o diário Folha de S. Paulo no mês passado, em artigo sobre a associação de Da Silva com álcool e em alusão a um coquetel feito com cachaça.

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