BLOG O MURAL: Sabe quando o jogo vai mudando de regra a depender de que é o dono da bola, se não jogar levo a bola embora e acabou o jogo. Os barões da Big House, e do PIG, imaginam que estão nesta época ainda. O belíssimo texto de Marco Coimbra sobre PT, oposição e jogo eleitoral. No Blog do Luis Nassif
em Carta Capital, sugestão Julio Cesar Macedo Amorim
É possível que as oposições brasileiras tenham, de si mesmas, uma péssima imagem. E que seus porta-vozes uma ainda pior. Haveria outra razão para que cobrem, do governo e das lideranças petistas, comportamentos aos quais nunca se sentiram obrigadas? Que clamem aos céus quando seus adversários fazem o que sempre foi sua marca registrada?
Por que só o governo e os petistas pecariam ao fazer como elas? Qual o motivo de denunciá-los, se suas práticas, em tantos momentos, foram iguais? Só pode ser porque, do PT, esperavam mais. Porque, no fundo, no fundo, achavam que o PT deveria ser diferente delas.
Por ser formado por pessoas mais idealistas e menos conspurcadas pelos velhos vícios de nosso sistema político, o PT não deveria agir do mesmo modo.
O que seria admissível para elas, considerando uma compreensível falta de escrúpulos, seria indesculpável em um petista.
Há, no entanto, outra hipótese. Talvez não seja uma espécie de pundonor envergonhado que as leve a exigir do PT que seja o que elas não conseguem ser. Talvez seja puro cinismo. Se, por decência, o PT não deveria fazer o que elas fazem, seriam elas as indecentes. Se, ao contrário, não era condenável o que fizeram quando estavam no poder, exigir que o PT deixasse de fazê-lo quando chegasse a sua vez chegaria a ser desfaçatez.
Tomemos, como ilustração, o debate dos últimos meses sobre a “antecipação” da eleição presidencial de 2014. O responsável por tê-la deflagrado seria Lula, ao afirmar que Dilma Rousseff é a candidata natural do PT na sucessão do ano que vem.
Nove em dez lideranças oposicionistas passaram a “denunciar” o gesto do ex-presidente, como se tivesse dito algo além do evidente: que Dilma faz um bom governo e tem todo o direito de buscar a reeleição. Os funcionários da mídia ligada à oposição, achando que faziam “jornalismo crítico”, engrossaram o coro de repúdio à “antecipação”.
Em primeiro lugar, a própria ideia faz pouquíssimo sentido. Reclamar da “antecipação” implica acreditar que exista uma “hora certa” para que o eleitorado de um país possa começar a discutir seu futuro. Que, até lá, todos deveriam ser proibidos de tratar do assunto. Quem ouviu a grita das lideranças oposicionistas e da “grande imprensa” pode ter pensado que nunca tínhamos tido a “antecipação” que questionaram. Que, antes de Lula “antecipar” a eleição de 2014, as anteriores aconteceram em sua “hora natural”.
Mas o fato é que a mais radical “antecipação” de uma eleição presidencial em nossa história aconteceu no governo tucano. Mais precisamente, quando Fernando Henrique Cardoso levou a maioria parlamentar que o apoiava a aprovar uma emenda constitucional que lhe dava o direito de pleitear um segundo mandato.
Exposto o interesse do Planalto na emenda da reeleição e revelados os bastidores da atuação de seus operadores para fazê-la passar no Congresso, ficou evidente que FHC era candidato a permanecer no cargo. Tanto que estava disposto a pagar para ter o direito de disputá-lo.
O que significa dizer que a eleição de 1998 começou, oficialmente e em razão do comportamento e das declarações do presidente da República e de seus assessores, quase dois anos antes da hora. Se alguém quisesse falar de “antecipação” melhor exemplo que esse não haveria.
Algo semelhante ocorre em relação a outra “denúncia”oposicionista, de que Dilma, após lançada “precipitadamente” sua candidatura, estaria “usando o governo” com “fins eleitoreiros”. O momento mais extraordinário de “uso eleitoral do governo” em uma sucessão presidencial moderna no Brasil ocorreu na eleição de 1994, a primeira vencida por FHC. Mas todas as manifestações recentes das oposições, aparentemente, o esquecem.
Existiria exemplo de uso eleitoral do governo maior que o lançamento do Plano Real em 1994? Seria possível fazer mais que implantar um programa anti-inflacionário em um cronograma fixado de forma a coincidir com o calendário eleitoral?
De teatro em teatro, o que as oposições partidárias e a direita midiática pretendem é atar as mãos do governo e do PT, impedindo que faça o jogo político dentro das regras que elas próprias escreveram. Na verdade, não é por autocrítica ou cinismo que fazem assim. É apenas por esperteza.
por Marcos Coimbra, É possível que as oposições brasileiras tenham, de si mesmas, uma péssima imagem. E que seus porta-vozes uma ainda pior. Haveria outra razão para que cobrem, do governo e das lideranças petistas, comportamentos aos quais nunca se sentiram obrigadas? Que clamem aos céus quando seus adversários fazem o que sempre foi sua marca registrada?
Por que só o governo e os petistas pecariam ao fazer como elas? Qual o motivo de denunciá-los, se suas práticas, em tantos momentos, foram iguais? Só pode ser porque, do PT, esperavam mais. Porque, no fundo, no fundo, achavam que o PT deveria ser diferente delas.
Por ser formado por pessoas mais idealistas e menos conspurcadas pelos velhos vícios de nosso sistema político, o PT não deveria agir do mesmo modo.
O que seria admissível para elas, considerando uma compreensível falta de escrúpulos, seria indesculpável em um petista.
Há, no entanto, outra hipótese. Talvez não seja uma espécie de pundonor envergonhado que as leve a exigir do PT que seja o que elas não conseguem ser. Talvez seja puro cinismo. Se, por decência, o PT não deveria fazer o que elas fazem, seriam elas as indecentes. Se, ao contrário, não era condenável o que fizeram quando estavam no poder, exigir que o PT deixasse de fazê-lo quando chegasse a sua vez chegaria a ser desfaçatez.
Tomemos, como ilustração, o debate dos últimos meses sobre a “antecipação” da eleição presidencial de 2014. O responsável por tê-la deflagrado seria Lula, ao afirmar que Dilma Rousseff é a candidata natural do PT na sucessão do ano que vem.
Nove em dez lideranças oposicionistas passaram a “denunciar” o gesto do ex-presidente, como se tivesse dito algo além do evidente: que Dilma faz um bom governo e tem todo o direito de buscar a reeleição. Os funcionários da mídia ligada à oposição, achando que faziam “jornalismo crítico”, engrossaram o coro de repúdio à “antecipação”.
Em primeiro lugar, a própria ideia faz pouquíssimo sentido. Reclamar da “antecipação” implica acreditar que exista uma “hora certa” para que o eleitorado de um país possa começar a discutir seu futuro. Que, até lá, todos deveriam ser proibidos de tratar do assunto. Quem ouviu a grita das lideranças oposicionistas e da “grande imprensa” pode ter pensado que nunca tínhamos tido a “antecipação” que questionaram. Que, antes de Lula “antecipar” a eleição de 2014, as anteriores aconteceram em sua “hora natural”.
Mas o fato é que a mais radical “antecipação” de uma eleição presidencial em nossa história aconteceu no governo tucano. Mais precisamente, quando Fernando Henrique Cardoso levou a maioria parlamentar que o apoiava a aprovar uma emenda constitucional que lhe dava o direito de pleitear um segundo mandato.
Exposto o interesse do Planalto na emenda da reeleição e revelados os bastidores da atuação de seus operadores para fazê-la passar no Congresso, ficou evidente que FHC era candidato a permanecer no cargo. Tanto que estava disposto a pagar para ter o direito de disputá-lo.
O que significa dizer que a eleição de 1998 começou, oficialmente e em razão do comportamento e das declarações do presidente da República e de seus assessores, quase dois anos antes da hora. Se alguém quisesse falar de “antecipação” melhor exemplo que esse não haveria.
Algo semelhante ocorre em relação a outra “denúncia”oposicionista, de que Dilma, após lançada “precipitadamente” sua candidatura, estaria “usando o governo” com “fins eleitoreiros”. O momento mais extraordinário de “uso eleitoral do governo” em uma sucessão presidencial moderna no Brasil ocorreu na eleição de 1994, a primeira vencida por FHC. Mas todas as manifestações recentes das oposições, aparentemente, o esquecem.
Existiria exemplo de uso eleitoral do governo maior que o lançamento do Plano Real em 1994? Seria possível fazer mais que implantar um programa anti-inflacionário em um cronograma fixado de forma a coincidir com o calendário eleitoral?
De teatro em teatro, o que as oposições partidárias e a direita midiática pretendem é atar as mãos do governo e do PT, impedindo que faça o jogo político dentro das regras que elas próprias escreveram. Na verdade, não é por autocrítica ou cinismo que fazem assim. É apenas por esperteza.
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