sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Genoino, e uma história a defender




BLOG O MURAL: Relendo Rovai.

Em 1998, estudava na Faculdade de Filosofia e Estudo Sociais de Tatuí (ASETA). Era um garoto de 28 anos que acabava de sair do colegial fazendo supletivo cheio de brilho nos olhos. Já era petista e defendia a corrente socialista. Só queria ser professor, porque sonhava em mudar o mundo. Mas ao mesmo tempo não era um radical tradicional. Achava muito boa a eleição de Tancredo pelo Colégio Eleitoral, mas fiquei muito triste com o modelo de governo do Sarney, já com relação ao Collor nem preciso falar.
Genoino talvez não pensasse como eu. E eu mal sabia quem era o Genoino.
Mas junto com um amigo fiquei encarregado de esperá-lo para uma palestra na porta de entrada do estacionamento da faculdade. Ele iria lá para um debate sobre conjuntura política. Cá entre nós, ver um deputado de esquerda falar de conjuntura política em 1998 era algo muito interessante, principalmente para os alunos de Estudo Sociais, e o interessantes é que era o ultimo curso de Estudo Sociais que estava ocorrendo na região de Sorocaba.
Eu mal sabia definir ainda o que era conjuntura política. Era um garoto do interior que gostava de política. Então, imaginava que aquilo tinha muito a ver comigo e com meu curso
Mas o que tudo isso tem a ver com o Genoino? Recordo-me daquele homem de cara vincada, com típicos traços de nordestino, de sertanejo, se anunciando na portaria da Faculdade para o guarda que fazia a segurança da entrada.
E lembro-me que eu ia chegando ao guarda para dizer que aquele senhor era um deputado federal e estava autorizado a entrar pela direção da faculdade para dar uma palestra.
O guarda olhou de cima em baixo para aquele homem simples, de camisa e calça jeans, que dirigia um passat vermelho, ano 88, meia boca. E olhou para o outro  lado, onde eu estava com cara de muleque que dizia ter a “autorização”. Olhou, olhou e deu o veredicto. “Eu não autorizo entrar sem o diretor vir aqui. Nunca vi deputado dirigindo um Passat desses.”
Genoino mostrou a carteira de deputado. E nada.. Eu argumentei que poderia trazer a autorização por escrito. E nada. Genoino me pediu, então, pra subir no carro. E acelerou o carro entramos na faculdade, deixando o guarda meio perdido sem saber o que fazer.
Quando ele estacionou e os estudantes viram de quem se tratava, em minutos já estava cercado por dezenas de professores e alunos. E também pelo diretor que pediu pro segurança que havia nos seguido voltar para o seu posto.
Aquele encontro marcou. Me aproximei do grupo que fazia política na corrente chamada Caminhando e encontrei o deputado petista algumas outras vezes, assim como tantos outros.
Genoino sempre me impressionou pelas opiniões fortes, a coragem pra enfrentar polêmicas e a altivez.
Infelizmente, este Genoino parecia ter submergido com o furacão de 2005 e a crise do Mensalão. Na verdade, parecia já ter sido engolido em 2002, quando foi candidato ao governo de São Paulo e caiu na armadilha de fazer uma campanha bastante conservadora para tentar derrotar Alckmin.
Hoje o vi na televisão tomando posse para o seu sétimo mandato, após uma condenação pelo STF que pode levá-lo a cumprir seis anos e onze meses de prisão, mesmo que em regime semi-aberto.
Ele podia estar destruído, mas me pareceu altaneiro. Deu uma coletiva, falando de forma firme e clara frases como: “Tenho a consciência serena e tranquila dos inocentes” e “espero que a verdade apareça mais cedo ou mais tarde”.
Resgatando a velha forma, parece que Genoino decidiu não desistir e entregar os pontos. É importante que uma pessoa com a história dele e que foi decisivo para pessoas de diferentes gerações, não se conforme em passar para a história como um bandido.
Bandidos desfilam por aí sem se preocupar com a história. Genoino tem uma história a defender. E o país precisa que ele assim o faça.
 

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