BLOG O MURAL: Relendo Rovai.
Em
1998, estudava na Faculdade de Filosofia e Estudo Sociais de Tatuí (ASETA). Era
um garoto de 28 anos que acabava de sair do colegial fazendo supletivo cheio de
brilho nos olhos. Já era petista e defendia a corrente socialista. Só queria
ser professor, porque sonhava em mudar o mundo. Mas ao mesmo tempo não era um
radical tradicional. Achava muito boa a eleição de Tancredo pelo Colégio
Eleitoral, mas fiquei muito triste com o modelo de governo do Sarney, já com
relação ao Collor nem preciso falar.
Genoino talvez não pensasse como eu. E eu mal sabia quem era o
Genoino.
Mas junto com um amigo fiquei encarregado de esperá-lo para uma
palestra na porta de entrada do estacionamento da faculdade. Ele iria lá para
um debate sobre conjuntura política. Cá entre nós, ver um deputado de esquerda
falar de conjuntura política em 1998 era algo muito interessante,
principalmente para os alunos de Estudo Sociais, e o interessantes é que era o
ultimo curso de Estudo Sociais que estava ocorrendo na região de Sorocaba.
Eu mal sabia definir ainda o que era conjuntura política. Era um
garoto do interior que gostava de política. Então, imaginava que aquilo tinha
muito a ver comigo e com meu curso
Mas o que tudo isso tem a ver com o Genoino? Recordo-me daquele
homem de cara vincada, com típicos traços de nordestino, de sertanejo, se
anunciando na portaria da Faculdade para o guarda que fazia a segurança da
entrada.
E lembro-me que eu ia chegando ao guarda para dizer que aquele
senhor era um deputado federal e estava autorizado a entrar pela direção da
faculdade para dar uma palestra.
O guarda olhou de cima em baixo para aquele homem simples, de camisa
e calça jeans, que dirigia um passat vermelho, ano 88, meia boca. E olhou para
o outro lado, onde eu estava com cara de muleque que dizia ter a
“autorização”. Olhou, olhou e deu o veredicto. “Eu não autorizo entrar sem o
diretor vir aqui. Nunca vi deputado dirigindo um Passat desses.”
Genoino mostrou a carteira de deputado. E nada.. Eu argumentei que
poderia trazer a autorização por escrito. E nada. Genoino me pediu, então, pra
subir no carro. E acelerou o carro entramos na faculdade, deixando o guarda
meio perdido sem saber o que fazer.
Quando ele estacionou e os estudantes viram de quem se tratava, em
minutos já estava cercado por dezenas de professores e alunos. E também pelo
diretor que pediu pro segurança que havia nos seguido voltar para o seu posto.
Aquele encontro marcou. Me aproximei do grupo que fazia
política na corrente chamada Caminhando e encontrei o deputado petista algumas
outras vezes, assim como tantos outros.
Genoino sempre me impressionou pelas opiniões fortes, a coragem pra
enfrentar polêmicas e a altivez.
Infelizmente, este Genoino parecia ter submergido com o furacão
de 2005 e a crise do Mensalão. Na verdade, parecia já ter sido engolido
em 2002, quando foi candidato ao governo de São Paulo e caiu na armadilha
de fazer uma campanha bastante conservadora para tentar derrotar Alckmin.
Hoje o vi na televisão tomando posse para o seu sétimo mandato, após
uma condenação pelo STF que pode levá-lo a cumprir seis anos e onze meses de
prisão, mesmo que em regime semi-aberto.
Ele podia estar destruído, mas me pareceu altaneiro. Deu uma
coletiva, falando de forma firme e clara frases como: “Tenho a consciência
serena e tranquila dos inocentes” e “espero que a verdade apareça mais cedo ou
mais tarde”.
Resgatando a velha forma, parece que Genoino decidiu não desistir e
entregar os pontos. É importante que uma pessoa com a história dele e que foi
decisivo para pessoas de diferentes gerações, não se conforme em passar para a
história como um bandido.
Bandidos desfilam por aí sem se preocupar com a história. Genoino
tem uma história a defender. E o país precisa que ele assim o faça.
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