Maria Izabel Noronha: "Estranhei o atirador de ovos; nas assembleias anteriores não tivemos qualquer incidente"
BLOG DO U: Vejam com José Serra e a Globo são muitos parecidos.
O que vou postar aqui é do blog Viomundo de Luiz Carlos Azenha com reportagem de Conceição Lemes.
É uma verdadeira história dos tempos da Ditadura Militar que a Folha chamou de "Dita Branda", e que por coincidência vem mostrar como o PIG vai atuar na campanha de Serra e que por sinal é idêntica a história contada por Eliakim Araujo no post anterior neste blog. Vejam essa história da greve dos professores um horror de chocar o advogado da OAB que lutou contra a ditadura para livrar da cadeia muitos presos políticos daquela época.
por Conceição Lemes
Sexta-feira à tarde, 26 de março, professores em greve da rede estadual se reúnem na frente do estádio do Morumbi. Objetivo é chegar à sede do governo do Estado de São Paulo, para fazer o então governador José Serra abrir negociação.
A tropa de choque bloqueia todos os acessos ao Palácio dos Bandeirantes. Caminhões atravessados nas ruas, barreiras de concreto, policiais armados. O conselho de representantes da Apeoesp – 700 professores da capital, Grande São Paulo e interior – está em atenção máxima, para que não haja qualquer incidente.
“Antes da assembleia, deu para eu ver um homem atirando ovos no caminhão de som, um resvalou em mim”, conta Maria Izabel Noronha, presidente do Sindicato dos Professores em Estabelecimentos de Ensino da Rede Pública do Estado de São Paulo (Apeoesp). “Estranhei. Nesta campanha, fizemos várias passeatas com milhares de pessoas sem nenhum incidente. A oposição está com a situação nesta campanha.”
“Comecei então assembleia, dizendo que íamos fazer de tudo para que fosse pacífica”, continua Maria Izabel. “Que cada um seria o guardião dela. Pedi que se vissem qualquer movimento estranho, alguém com alguma coisa na mão para atirar, que segurasse a pessoa para que isso não ocorresse. Em segundos, alguns professores conseguiram pegar o atirador de ovos, que corria em direção à base da PM. Não era professor…”
César Pimentel, advogado da Apeoesp, foi atrás para evitar que alguém se ferisse: “No ato, apareceram seis PMs para tirar o rapaz da da confusão. Ele saiu andando tranquilamente com os policiais”.
Seria um agente infiltrado? Nos dias seguintes, à medida que se revelava a verdade sobre a foto do homem carregando a policial ferida, aumentava a suspeita na Apeoesp de que o atirador de ovos possa ser também um agente infiltrado.
Vale a pena relembrar. Na sexta-feira, 26 de março, o homem carregando a policial foi identificado pela Agência Estado como professor. A foto emocionou a rede (por exemplo, aqui e aqui). Porém, nota da PM no sábado à tarde esclareceu que se tratava de policial militar à paisana.
Questionada, a PM disse ao Viomundo no sábado que ainda não sabia o nome dele nem o que fazia na manifestação. Mas que havia sido identificado como sendo da corporação.
Na segunda à tarde, a assessoria de imprensa informou ao Viomundo que a PM não iria divulgar o nome do policial militar à paisana: “Ele estava no local, não disse o que estava fazendo”.
Na própria segunda à noite, 29 de março, a Apeoesp descobriu que o policial militar à paisana era infiltrado, um P2 (policial do serviço reservado da PM paulista) e embarcou em Osasco no ônibus dos professores, como se fosse um deles. A descoberta da Apeoesp derrubou três versões oficiais da PM.
“Estou chocado, perplexo”, afirma Idibal Pivetta, advogado de presos políticos, defensor dos Direitos Humanos e ex-conselheiro da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). “A se confirmar que o atirador de ovos e o rapaz que socorreu a soldado são agentes infiltrados, é ação típica da época da ditadura.”
“Quem paga as despesas de uma polícia estadual? Quem paga o salário desses dois supostos policiais infiltrados?”, questiona Pivetta. “Somos nós, cidadãos, contribuintes, através dos impostos. O dinheiro dos impostos deve ser usado em benefício da sociedade geral – escolas, hospitais, transporte, saúde e educação pública. Não é para espionar, acompanhar manifestações dos professores que são absolutamente legais, legítimas. É inadmissível que em 2010, depois de tantos anos da queda da ditadura, o governo do Estado de São Paulo utilize esses expedientes.”
“Uma coisa é a polícia fardada, declarada”, aprova Pivetta. “Outra coisa é a infiltrada.
A infiltração é para ver problemas de drogas, contrabando, segurança e não para espionar o cidadão comum sei lá para o quê. A própria mudança de versões da PM em relação ao policial carregando a soldado torna mais suspeita a operação.”
“Essas duas pessoas estavam ali pagas por nós, contribuintes”, reforça o advogado. “Isso exige, portanto, que o governo do Estado explique a infiltração delas.”
Para Pivetta, esse fato tem de ser levado à Assembleia Legislativa e respondidas as seguintes questões: qual a verba destinada à infiltração de policiais nos movimentos sociais? Quem determina? De onde sai essa verba? O que deve e o que não deve ser feito pelos agentes infiltrados?
“Como na Assembleia Legislativa não passa nada que contrarie o governo do Estado, a Apeoesp poderia entrar com uma ação na Justiça para pedir informações concretas ao Serra sobre a infiltração de agentes nas assembleias dos professores”, defende Pivetta. “Pela Constituição, os órgãos públicos têm obrigação de fornecer informes de suas atividades à sociedade.”
Idibal Pivetta é também o dramaturgo César Vieira, criador do grupo Teatro Popular e União Olho Vivo. No dia 25 de maio, Pivetta receberá o prêmio Franz de Castro de Direitos Humanos. É o prêmio mais importante da OAB. Franz de Castro era advogado e foi assassinado em 1981 pela polícia por ter-se prontificado a intermediar uma rebelião de presos na cidade de Jacareí, interior de São Paulo.
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Nota do Viomundo: Segundo o esclarecimento divulgado pela PM no dia 27 de março, a soldado Erika Cristina Moraes de Souza Canavezi foi ferida com uma paulada no rosto. O Viomundo apurou que ela ficou apenas alguns minutos na emergência do Hospital Israelita Albert Einstein.
Um médico que já trabalhou no setor nos disse ainda: “Se ela tivesse levado uma paulada forte, como sugere a nota da PM, provavelmente teria feito tomografia da cabeça e ficado pelo menos algumas horas em observação. O pouquíssimo tempo na emergência é sinal de que certamente não houve trauma encefálico e a contusão foi leve, sem gravidade”.
Quanto à origem da “paulada” no rosto, a nota da Polícia Militar não diz que ela foi dada por um professor. Mas foi a dedução geral. Não está descartada a hipótese de lesão por um “cassetete amigo”.
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