BLOG O MURAL: Pesquisa Datafolha mostra que o percentual de
pessoas que "confiam muito" na imprensa caiu de 31% para 22%. Por outro
lado, a taxa daqueles que "não confiam" de jeito nenhum nos jornais
subiu de 18% para 28%. Explicação estaria na partidarização dos grandes
grandes grupos de mídia
Como a pesquisa chega após meses de intensa cobertura do julgamento do mensalão e após um processo eleitoral, o resultado vem sendo visto por analistas (como Emir Sader, por exemplo) como decorrência da partidarização dos grandes veículos de comunicação. O resutado disso é que, aproximadamente, apenas um a cada cinco brasileiros confia plenamente na imprensa.
Leia abaixo análise do Blog da Cidadania:
Blog da Cidadania - Nos últimos dias, duas pesquisas
de opinião (do Ibope e do Datafolha) sobre quem é quem hoje na grande
política nacional revelaram um quadro de polarização e de cristalização
de posições políticas entre a sociedade, com vantagem renitente para os
atuais detentores do poder federal, que, nessas pesquisas, aparecem com
popularidade inabalada.
Mas, apesar da reiterada pregação desta e de tantas outras páginas da
internet e de pequenos exércitos de militantes virtuais no sentido de
que seria "inútil" a campanha da grande imprensa contra Lula, PT e – por
tabela – Dilma Rousseff, as pesquisas revelam que, cada um a seu modo,
direita e esquerda têm – ou pensam que têm – razão em suas táticas
atuais.
Ter razão, claro, no sentido de que ambos os lados confiam em suas
estratégias com base em elucubrações racionais e amplamente discutidas
internamente. É, pois, ingenuidade achar que a passividade do PT e a
virulência da oposição midiática derivam de não saberem o que estão
fazendo.
Não há bobinhos no Palácio do Planalto; não há bobinhos no PT; não há
bobinhos no PSDB e tampouco há bobinhos na Globo, na Folha, na Veja ou
no Estadão. A forma como agem – ou reagem, conforme o lado – ao jogo
político é produto de intensa reflexão, de sondagens do eleitorado e de
sólidas teorias políticas.
Então você dirá, leitor petista, que a perenidade da aprovação de
Lula, Dilma e PT revelada pelas pesquisas mostra que ao menos do lado da
direita midiática, se não há "bobinhos", há dementes, pois quanto mais
batem nos petistas mais eles se fortalecem perante a opinião pública. E,
em alguma medida, pode estar certo. Mas não totalmente.
Vejamos o que acontece do outro lado. As lideranças e os militantes
da direita midiática serão tão alucinados que não enxergam que foi
inútil tudo o que fizeram de agosto para cá, desde o início concomitante
da campanha eleitoral de 2012 e do julgamento do mensalão?
Nem a militância destro-midiática é alucinada nem foi inútil sua
campanha anti-Lula, anti-PT e – sempre por tabela – anti-Dilma. Já
conversei com muitos desses militantes e sei por que persistem na
artilharia incessante contra esses três eixos da situação hoje no
Brasil, mas nem precisaria.
Todos se lembram da pregação de dona Judith Brito no Instituto
Milenium no sentido de que cabia à imprensa fazer oposição ao governo
federal, explicando que a debilidade da oposição, decorrente do
desenvolvimento econômico e social do país, requeria o concurso dos
meios de comunicação para evitar a "hegemonia lulopetista".
Para quem não sabe, em entrevista ao jornal O Globo, em 2010, no
âmbito da campanha eleitoral à Presidência da República, a presidente da
Associação Nacional de Jornais e executiva da Folha de S. Paulo, Maria
Judith Brito, fez a seguinte declaração:
"A liberdade de imprensa é um bem maior que não deve ser limitado. A
esse direito geral, o contraponto é sempre a questão da responsabilidade
dos meios de comunicação. E, obviamente, esses meios de comunicação
estão fazendo de fato a posição oposicionista deste país, já que a
oposição está profundamente fragilizada. E esse papel de oposição, de
investigação, sem dúvida nenhuma incomoda sobremaneira o governo"
Leia agora, abaixo, comentário do verbete "Partido da Imprensa Golpista" na Wikipedia.
"A declaração de Maria Judith Brito foi bastante criticada por
repórteres e intelectuais, bem como por autoridades ligadas ao governo.
As críticas focaram no aparente reconhecimento de que a imprensa
estaria, de fato, assumindo um papel de oposição.
Em artigo publicado na Carta Maior, Jorge Furtado afirmou que a
presidente da associação teria assumido que a grande imprensa do país
virou um 'partido político' e a criticou por não questionar a
'moralidade de seus filiados [ao] assumirem a 'posição oposicionista
deste país' enquanto, aos seus leitores, alegam praticar jornalismo'
Luciano Martins Costa, do Observatório da Imprensa, fez crítica
semelhante, afirmando que 'o risco maior para a imprensa vem da própria
imprensa, quando os jornais se associam para agir como um partido
político'.
O ministro Paulo Vannuchi, titular da Secretaria Especial dos
Direitos Humanos, também criticou a declaração, afirmando que a imprensa
'vem confundindo um papel que é dela — informar, cobrar e denunciar —
com o papel do protagonismo partidário'.
Washington Araújo, no Observatório da Imprensa, questiona: 'será
papel dos meios de comunicação substituir a ação dos partidos políticos
no Brasil, seja de situação ou de oposição? (...) Em isso acontecendo...
não estaremos às voltas com clássica usurpação de função típica de
partido político? E não seria esta uma gigantesca deformação do rito
democrático?'"
Você pode concordar ou discordar da posição da grande imprensa
brasileira – ou de seus maiores componentes –, mas não se pode discordar
de que há uma lógica no que faz. Vamos a ela.
É claro que sem as campanhas acusatórias aos petistas e aos aliados
deles, estariam com popularidade muito mais alta. Há pouco, Dilma
anunciou duas medidas que têm um potencial imensurável de beneficiar a
sociedade. O que seja, a forte redução nos juros e no valor da conta de
luz.
Imagine você, leitor, o que aconteceria se essas medidas fossem
implantadas sem que ninguém tentasse minimizar e até desmentir, ainda
que de forma absurda, o potencial delas para melhorar a vida da
sociedade e fomentar o desenvolvimento. A esta altura, Dilma teria
99,99% de aprovação.
A mídia, pois, apela à idiotia ou ao preconceito ou à falta de
instrução ou ao egoísmo ou à falta de caráter de setores da sociedade –
ou a tudo isso junto – para formar seu exército antilulista e
antipetista. E consegue. E esse êxito está expresso nos números da
pesquisa Datafolha divulgada neste domingo pela Folha de São Paulo, com
destaque para Lula, que continua forte como nunca apesar de estar
sofrendo uma das maiores ofensivas de seus adversários.
As pessoas, porém, confundem aprovação com intenção de voto e é por
isso que alguns não entendem por que Dilma tem 78% de aprovação pessoal,
mas só 53% a 57% de intenções de voto para presidente da República.
A explicação é muito simples: aprovação não é pesquisada só entre
eleitores, mas também entre quem não vota ainda ou entre quem não vota
mais. E também entre quem não quer votar.
Uma analogia pode explicar melhor esse aparente paradoxo: a pessoa
pode gostar muito de ir à praia, mas isso não significa que deseje ou
pretenda morar na praia, da mesma forma que reconhecer que o governo
está indo bem não significa que a pessoa não julgue que pode ir melhor.
A estratégia midiática, portanto, é, sim, racional. É questionável?
Claro que é. Afinal, por mais que o engajamento político-partidário da
grande imprensa tenha tido êxito no que se propôs (formar uma militância
ampla de resistência à possibilidade de "hegemonia lulopetista"), Ibope
e Datafolha acabam de mostrar que todo esse esforço tem sido
insuficiente.
O contraponto à estratégia da direita midiática é o de auto
vitimização dos detentores do poder, o que não seria possível se não
houvesse um imenso fundo de verdade na premissa de que Lula, PT e Dilma
são alvos de injustiças e violações de seus direitos civis.
Essa estratégia também tem tido largo êxito. E, à diferença da
estratégia oposicionista, um êxito majoritário, pois se estão
cristalizadas posições contra o governo, igualmente se cristalizaram as
posições no sentido de que a imprensa está sendo vista como um legítimo
partido político, o que, por si só, não condena, mas descredencia para a
crítica.
É claro, evidente e cristalino que quem não é corintiano ou
palmeirense não irá levar em conta a opinião de um torcedor do
Corinthians sobre o Palmeiras e vice-versa. É o que ocorre com a disputa
entre situação petista e oposição demo-tucano-midiática. A maioria já
se convenceu de que não dá para levar em conta o noticiário "da Globo"
porque "a Globo" odeia o PT.
Resta, pois, a insinuação que o Partido da Imprensa tenta
contrabandear dentro do noticiário sobre essas recentes pesquisas Ibope e
Datafolha, a de que, aos poucos, a campanha midiática está surtindo
efeito. Isso porque os pesquisados revelaram um pouco mais de desagrado
com aspectos da governança do país, com destaque para a Segurança, por
exemplo.
Essa premissa ignora o fato de que não há nada de inédito ou de
espantoso em um contingente maior, mas ainda muito pequeno dos
pesquisados, desaprovar aspectos da condução do país pelo governo do PT,
pois governos estaduais e municipais de oposição têm sofrido revés
muito maior – pesquisas recentes mostram, por exemplo, que 71% dos
paulistas não confiam no governador tucano Geraldo Alckmin para resolver
os problemas de Segurança que assolam São Paulo.
Além disso, sempre que aumenta o nível de crítica ao governo, a Lula e
ao PT na mídia, o efeito imediato é o de aumentar, de alguma maneira, a
visão crítica da sociedade sobre este ou aquele aspecto, e essas
pesquisas estimulam isso ao fazerem perguntas ao pesquisado que o
induzem a refletir sobre o que possa existir de negativo em um governo
que considera bom.
Sobre a economia, apesar de a mídia agir como se o crescimento não
estivesse diminuindo fortemente no mundo inteiro, praticamente tentando
vender que esse é um problema brasileiro, quem não sabe que enquanto
aqui não decorre nenhum grande problema por conta da crise internacional
nos países que sempre foram o oásis do bem-estar social as famílias
estão sendo despejadas de suas casas aos milhares, o desemprego grassa e
aquele bem-estar vai sumindo?
Apesar do fato de uma parcela da sociedade entrar nessa onda da
mídia, a grande maioria – que as pesquisas dizem ser de quase 80% – sabe
muito bem que estamos nos saindo brilhantemente ao navegar por uma
crise que assola o planeta inteiro.
Essa é a fraqueza da estratégia da direita midiática, e é devido a
ela que o governo federal e a sua titular vão conseguindo não apenas
cristalizar, mas aumentar o contingente dos que apoiam o rumo da
administração do país. A maioria dos brasileiros está convencida de que a
grande imprensa virou mesmo o que até já assumiu que é: um partido
político.
Sem comentários:
Enviar um comentário