quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

SEM POLÍTICOS NÃO HÁ DEMOCRACIA.


BLOG O MURAL: Há desonestos em todos os setores da sociedade. Há médicos que molestam sexualmente as suas pacientes, há advogados que prestam serviços a criminosos, há policiais que cometem crimes, há padres que praticam pedofilia, assim como á pastor que comete abuso sexual, e claro, há jornalistas que só opinam o que o patrão manda… Por que, então, não haveria políticos que roubam dinheiro público?


A discussão que setores da imprensa desencadearam por conta do aumento dos salários dos políticos detentores de mandatos eletivos ignora (propositalmente) a inegável premissa do primeiro parágrafo e tenta pintar toda a classe política como corrupta, incompetente e abusadora dos privilégios dos cargos públicos.


Sei que estou remando contra maré, mas é preciso mostrar a realidade para que não fiquemos só com um ponto de vista, pois vejamos, a desqualificação generalista da classe política foi embutida pela “grande” imprensa a mando dos grupos econômicos nas mentes de expressiva parcela da sociedade ao longo da história da República (ler 1808 e 1822 Laurentino Gomes, entre outros). A tática é oriunda das elucubrações da ponta superior da pirâmide social e visa impedir que oportunidades se redistribuam na base da pirâmide em um país que começa agora a fazer justiça com distribuição de renda e um país em que é a mais concentrada.


“....O parlamento remunerado foi uma conquista dos trabalhadores no âmbito do Movimento Cartista do século XIX, na Inglaterra, desencadeado, por sua vez, no âmbito da Revolução Industrial..... Mas talvez a parte mais relevante do movimento tenha sido a luta por direitos políticos como o estabelecimento do sufrágio universal e o fim do voto censitário, que só delegava direito de voto a quem se enquadrasse em um perfil que englobava gênero, renda, religião e outros valores que nada têm que ver com o direito de votar e ser votado....” (Eric Hobsbawm Breve Século XX).


Diante do fato consumado de que qualquer um pode se eleger e ser pago para exercer mandato eletivo, os que prefeririam que o país fosse administrado pelo topo da pirâmide social vêm tratando de criminalizar o uso de dinheiro público para tentar impedir que até o cidadão mais humilde possa se eleger vereador, deputado, senador, prefeito, governador e até presidente da República. Vejamos o caso emblemático do humorista Tiririca, que teve que provar que é “letrado”, mas se ele não fosse, e apenas soubesse escrever seu nome, não poderia ele ser Deputado Federal? Isso é um a prova cabal do descrédito que as pessoas têm no seres humanos com menos sucesso na vida, não fosse sua popularidade e sua biografia o próprio Lula teria que ser conduzido a provar que sabia ler e escrever antes de se tornar presidente do Brasil.


Em países ricos, que têm sociedade educada, digno padrão médio de vida e leis que valem para todos, a corrupção é muito mais difícil de ocorrer porque a imprensa não cai matando só em cima dos políticos corruptos, como no Brasil, mas também em cima dos corruptores, que em países como o nosso são deixados em paz por serem grandes anunciantes (pagantes do privilegio do topo da pirâmide), vejam bem, alguém já questionou o salário do Faustão, da Xuxa, do Gugu, ETC.., ou dos desembargadores, Juizes Federais, Estaduais ETC... Os primeiros da lista são empregados de rede de televisão que tem uma concessão publica, ou seja, usam nosso espaço para ganhar dinheiro e ainda querem nos determinar quem pode ou não fazer as leis do país.


Pagar bem ao político brasileiro, portanto, é imperativo. Em um país como este, um cidadão como o autor deste texto teria dificuldade de se eleger e, assim, deixar a sua atividade profissional, pois como faria eu para ser um deputado Federal ou mesmo Estadual, teria que deixar de lado minha carreira para se dedicar ao serviço público, e com isso, depois de um mandato de quatro anos e não fosse reeleito teria que recomeçar a vida do zero, pois me afastar de minha profissão por tanto tempo me deixaria fora do mercado.


A intenção da criminalização da classe política é justamente essa. Baixos salários favorecem a imprensa, e grandes proprietários de grupos econômicos que precisam justamente de uma classe política mal-paga e assim, suscetíveis a corrupção e a coação por meio de ameaça de denúncias no noticiário. Não que altos salários sejam garantia de que um deputado, por exemplo, não irá se corromper. Como já foi dito, há políticos, advogados, médicos e até jornalistas corruptos, para os quais dinheiro nunca é demais. Daí a dizer que todos eles se corromperão pelo que fazem alguns, é outra história é má fé. Não que o aumento hora dado não seja uma afronta aos assalariados deste país, porem.


Porem, alguém já viu uma campanha da mídia dessa envergadura contra o salário de juízes, por exemplo? São os salários mais altos, aos quais acabam de ser equiparados os salários dos parlamentares e chefes do Executivo. Mas o senso comum diz que juízes devem ser bem pagos para não tomarem decisões movidos por propinas oferecidas pelos que serão julgados, não seria o mesmo caso do político, pois eles fazem leis que beneficiam uns e prejudica outros, digo de forma econômica, e se forem corrompidos a lei não sai nem de um lado nem para outro.


Aí ninguém contesta o argumento, pois é óbvio que juiz mal pago, ou melhor, que não seja muito bem pago, certamente correria maior risco de se vender, até por conta do poder que tem para fazê-lo sem ser descoberto. Mas a mídia e os grandes grupos econômicos não gostam muito de brigar com juízes, pois precisa deles o tempo todo. E muito menos com corruptores-anunciantes.
Mas quantos de nós poderíamos tem dois Habeas corpos em 24 horas (Habeas corpus significa "tenha o corpo". Garantia constitucional que deve ser concedida sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso do poder), pois, somos nós que pagamos o preço de sermos da base da pirâmide, e por isso, eles não querem que nós trabalhadores normais sejamos também fazedores de leis e fiscalizadores dos atos do executivo ou até mesmo o próprio executivo.


E assim se ficarmos comprando o discurso sem questionar que nos é imposto pela grande imprensa e colocando todos no saco comum, talvez cheguemos à conclusão que a ditadura é melhor, pois aí os aparelhos de democracia que são os vereadores, deputados, senadores, prefeitos, governos estaduais, e governo federal não serão mais necessários.


Por isso, que o movimento Cartista do século XIX no âmbito dos direitos políticos, a fim de que qualquer cidadão pudesse disputar um mandato eletivo, estabeleceram a remuneração aos que chegassem a cargos públicos pelo voto, sobretudo como parlamentares. Foi a fórmula encontrada para impedir que só os “ricos” exercessem o poder, é somente isso a briga deles e mais nada.

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