quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Advogado diz que debate sobre políticas raciais está “cheio de ódio” e “ressentimento”

BLOG O MURAL:  Jornal GGN - Às vésperas do Dia da Consciência Negra, comemorado na próxima quarta-feira (20), o programa “Brasilianas.org” discutiu, na última segunda-feira (18), as propostas e ações afirmativas para os negros. Um dos presentes nos estúdios da TV Brasil, o advogado Silvio Luiz de Almeida, afirmou que o debate sobre o assunto está “cheio de ódio” e “ressentimento”. “Existem setores da sociedade que não querem nenhuma política pública [em prol da população negra]”, disse. Para ele, “as ações afirmativas têm o papel de proporcionar o reconhecimento do negro enquanto cidadão”.
Doutor pela USP (Universidade de São Paulo), Almeida também preside o Instituto Luiz Gama, uma associação sem fins lucrativos “que atua na defesa das causas populares, com ênfase nas questões sobre os negros, as minorias e os direitos humanos”, segundo o site oficial da entidade.
Duas em cada três pessoas assassinadas em nosso país são negras, aponta o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), que conduziu uma pesquisa sobre o racismo no Brasil e divulgou os dados no último mês de outubro. Ainda de acordo com o instituto, nas cidades com mais de 100 mil habitantes, a chance de um adolescente negro ser vítima de um homicídio é 3,7 vezes maior do que a de um branco. O instituto também já havia divulgado, com base em dados coletados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), que 6,5% dos negros foram agredidos por policiais ou seguranças privados em 2009, enquanto 3,7% dos brancos haviam passado pela mesma situação.

Racismo inconsciente
Um dos autores do trabalho do Ipea, o pesquisador Almir Oliveira Júnior, também esteve presente no debate mediado pelo jornalista Luis Nassif. “O tratamento dado pela polícia aos cidadãos brancos e não brancos não é o mesmo”, afirmou.
Almeida diz que vê no Brasil a existência de um “racismo estrutural”. “Ele se dá fora do campo do consciente. É muito comum que um policial negro agrida um outro negro porque, na verdade, não está em jogo o indivíduo. O que está em jogo é o funcionamento da estrutura policial que tem o negro como vítima preferencial”, disse.
Esse “racismo estrutural”, nas palavras do advogado, é a base da sociedade de classes no Brasil. “Toda a construção da economia brasileira foi estruturada em cima dessa clivagem de raça em que se dá, também, uma clivagem de classe”, opinou.
O pesquisador do IPEA disse, no entanto, que “a desigualdade estrutural do sistema capitalista se reproduz para os pobres, independentemente da cor”, mas ressaltou que “a maior parte da população negra do país está entre os 50% mais pobres”.
Cotas nas universidades
Para Almeida, “as cotas raciais não têm apenas um papel de redistribuição econômica. Elas têm o papel de reconhecimento. Colocar negros dentro de certos espaços de poder para que se tire essa naturalização da violência, naturalização do negro em posições subalternas”, afirmou. Na opinião dele, uma política como essa é eficaz quando leva às universidades “um mínimo de diversidade”.
Também presente nos estúdios da TV Brasil, a coordenadora do Neinb (Núcleo de Apoio à Pesquisa em Estudos Interdisciplinares sobre o Negro Brasileiro) da USP (Universidade de São Paulo), Eunice Prudente, fez questão de afirmar que “as ações afirmativas não são apenas as cotas. O entendimento é muito mais amplo: inclusão. E não há como incluir o afrodescendente menosprezando e perseguindo as religiões de matriz africana. Isso é uma falta de respeito”

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