terça-feira, 6 de outubro de 2009

Remando Contra a Marina

BLOG DO U: Porque a candidatura Marina Silva não é uma alternativa de esquerda.

Por Gustavo Ferroni

A cada nova notícia e a cada novo acontecimento vejo a candidatura da Marina Silva mais distante da esquerda.

O discurso que cerca sua candidatura parece vir de pessoas que crêem ser possível mudar a sociedade sem se sujar, sem colocar o pé na terra, sem ficar desconfortável física e/ou psicologicamente. Sem confrontar seu próprio modo de vida e sem entrar em conflito com os donos dos meios de produção.

Este discurso também apresenta um estranho grau de dogmatismo, seja ao falar de sustentabilidade ou ao criticar indiscriminadamente todos que atuam no cenário político brasileiro; “os políticos”. Ao fazê-lo, porém, tende a focar suas críticas apenas nos indivíduos e raramente vai além daqueles no Congresso ou do Executivo. Não questiona a estrutura e os processos e ainda preserva a mídia, as empresas e o Judiciário.

É curioso notar que parte daqueles que cercam a candidatura da Marina são, ou foram, críticos da esquerda marxista e da antiga postura petista de “detentores da ética e da verdade”; exatamente por não concordarem com a suposta postura arrogante e dogmática [do PT].

Claro que nem todos que apóiam a Marina Silva são assim. Seria um erro menosprezar o significado de sua candidatura desta maneira. Porém, não é mera coincidência que boa parte destes nomes vem da elite. Uma parte vem do empresariado “responsável” e “verde”, isto é, aqueles empresários que ao menos no discurso parecem ser diferentes. Outra parte vem de ONGs sociais e ambientais que não possuem necessariamente uma base social. São ONGs que não deixam de cumprir um papel importante, mas seus quadros são da elite e seu dia-a-dia não é o mesmo dos movimentos sociais.

Ora, e os movimentos sociais onde estão?

Onde estão aqueles movimentos de grande base social, legitimidade e consistência política? Onde estão aqueles que aguentam a exclusão, a criminalização, e a falta de apoio às suas lutas e bandeiras?

O que diz o MST da candidatura da Marina? Afinal ela sempre teve transito com o movimento. Gostaria de entender porque ela não os envolve de maneira direta na reconstrução do PV e de seu programa para 2010. Será uma escolha dela, do MST ou de ambos?

E os outros movimentos sociais por que não foram envolvidos? Onde estará a CONTAG (Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura), o MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto), o MMC (Movimento das Mulheres Camponesas), ou ainda o MAB (Movimento dos Atingidos por Barragens) que é tão ligado a questão ambiental?

A lista poderia seguir com diversos exemplos como o MNCR (Movimento Nacional de Catadores de Recicláveis), a CONAQ (Coordenação Nacional das Comunidades Negras Rurais Quilombolas) e outros. E a questão principal continua. A questão que se impõe. Por que a re-fundação do PV, por meio da candidatura Marina Silva, não envolve diretamente os movimentos sociais? Não seria isto que deveríamos esperar de alguém com a trajetória dela?

Até o momento não é isto que vemos. A ida da Marina Silva ao PV não apontou que para a construção de uma nova alternativa popular e de esquerda. Aguardaremos evidências que sinalizem algo nesta direção, mas cada vez com menos esperança.

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