sábado, 13 de julho de 2013

Janio de Freitas: O médico vem primeiro!












BLOG O MURAL: Por Fernando Brito É sempre um alívio saber que, mesmo na grande mídia, ainda existe um resquício de bom senso. Nessa polêmica em torno das medidas do governo para promover melhoras no sistema público de saúde, tem sido muito chocante ver a reação corporativa e egoísta da classe médica, sempre contrária aos esforços do governo para levar mais profissionais ao interior.
Janio parte de uma premissa lógica. Em primeiro lugar, vêm os médicos. Não adianta nada o governo comprar equipamentos e aparelhar os hospitais sem profissionais para operá-los. E a presença de médicos sempre ajudará a sanar problemas estruturais, porque é o médico quem vai denunciá-los adequadamente às autoridades superiores. As estatísticas mostram que o Brasil tem pouco médico por habitante. Mais ainda: os médicos não querem trabalhar no serviço público, sobretudo nas regiões mais necessitadas.
O programa Mais Médicos, do governo federal, cujas inscrições já estão abertas, oferece salário de R$ 10 mil, mais uma “ajuda de custo” para o transporte de até R$ 30 mil.
Leia o artigo de Jânio:
Janio de Freitas: De galinhas e medicina
O que deve ir primeiro para o interior do País: o tão invocado equipamento básico ou o médico?
Janio de Freitas, na Folha
O ovo ou a galinha.
O ovo já é colega íntimo dos médicos em serviços à vida, no seu papel de receptáculo de contaminações nele injetadas para a produção de vacinas. A galinha tem séculos de contribuição aos pacientes, sob a forma daquela santa canja que reanima muito doente, para maior prestígio da medicina. É natural que se juntem para mais um esforço de contribuição ao mais importante dos saberes humanos.
Faz sentido a ponderação dos contrários à contratação de médicos estrangeiros para o interior, por falta, lá, até dos mais simples recursos para atendimento (a ponderação das associações médicas exala odores de motivação real muito diferente). É diante desse argumento que o ovo e a galinha comparecem com a velha indagação de qual deles veio primeiro. Muito sugestiva no caso atual.
O que deve ir primeiro para o interior, o tão invocado equipamento básico ou o médico? Se for o equipamento, além de ficar inútil, não tem, por si só, poder de atrair quem lhe dê uso proveitoso. Jornais e tevê têm noticiado casos exemplares de municípios com instalações à espera de médicos, mesmo com remuneração melhor que a ofertada nas capitais.
O médico que é médico quase sempre tem alguma coisa a fazer para atenuar o sofrimento mesmo sem a instrumentação e o remédio adequados. Vemos isso, com frequência, nos acidentes. Eu mesmo já ansiei, na beira de uma estrada, por um médico que parasse ao menos para me dizer como estancar a hemorragia perigosa.
Se primeiro a chegar, o médico, além do efeito de sua simples chegada, e das imediatas orientações sanitárias que pode proporcionar, tem meios de requerer, reclamar, denunciar e acusar publicamente as responsabilidades pelo descaso com os recursos de que precisa. E pode romper, até com apoio judicial, o contrato não cumprido pelo contratante.
O que não faz sentido é estabelecer a priori que no interior não haverá sequer os recursos minimamente necessários. Isto é sacar sobre o futuro. Especialidade de economistas e jornalistas, não de médicos. Por que não experimentar com mil ou 2 mil médicos? Se a experiência com metade deles der certo, ou que seja um terço, um quarto, já se terá aprendido muito, mas, sobretudo, quanto alívio terá sido dado, quantas crianças terão deixado de sofrer, se não de morrer?
E, se a carência impeditiva está no interior, os grandes centros urbanos estão equipados para o atendimento à população, mínimo embora? Há três dias noticiava-se que o Hospital do Andaraí, pronto-socorro e referência em queimados no Rio, estava com as cirurgias suspensas por falta até do material mais simplório, como cateter. A desgraçada periferia de São Paulo inclui serviços médicos com o equipamento necessário? As cenas recentes em tevê não foram tomadas no Projac.
Essa discussão não é sobre médicos, hospitais, postos de saúde, equipamentos. É sobre doença, sofrimento, partos, mortes, crianças.

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