terça-feira, 11 de maio de 2010

Bresser e a crise grega: a culpa não é do Estado; lembremos 98, quando Serra não era de "esquerda"


BLOG DO U: A Grécia é o elo mais fraco de um Capitalismo em crise: culpa não é do Estado, mas do sistema econômico. por escrevinhador (Luis Carlos Azenha)

Os "fundamentalistas de mercado" querem que o povo desavisado acredite numa fábula: a crise que corrói as instituições européias - a partir da Grécia - foi provocada (apenas) pelo descontrole das contas públicas. O Estado - ah, ele é sempre o culpado - teria crescido demais, com essa maldita mania de dar direitos sociais aos trabalhadores. Sabe como é: gregos, portugueses, italianos, espanhóis. Povos mediterrâneos, descontrolados, voluptuosos.

Trata-se de grossa mentira.
A "turma da bufunfa" (como diz o Paulo Nogueira Batista - "nosso" homem no FMI) usa os "fundamentalistas de mercado" para vender essa tese. Desde os anos 90 é assim. Aqui, no Escrevinhador, costumo chamar esse pessoal de "a turma da lição de casa". Passaram anos dizendo que o Brasil precisava fazer a "lição de casa": menos Estado, privatizações, mercado livre e desregulado. Essa seria a receita para o paraíso...

Foi a receita para o caos. E essa receita está na base também da crise na Grécia e na Europa.

O Capitalismo central está em crise. Esse é o fato.
E quando o capitalismo está em crise coisas incríveis podem acontecer. Até o Serra pode virar de "esquerda". Como ele se auto-definiu em entrevista recente.

Menos hipócrita é a posição de um outro tucano. Falo de Luiz Carlos Bresser-Pereira. Vale a pena ler o mais recente artigo de Bresser-Pereira. Sóbrio, sem idolatria ao mercado, ele avisa:

"A imprensa tem dado amplo noticiário sobre o assunto, mas afinal se limita a informar sobre o deficit público e a dívida pública do Estado grego, em vez de informar sobre o problema fundamental que não é do setor público, e sim do setor privado...".

E, mais adiante, vaticina:
A política de crescimento com poupança externa já vitimou muitos países. É preciso repensar radicalmente o problema das finanças internacionais e dos deficit em conta-corrente."
Por uma questão de delicadeza, talvez, Bresser tenha deixado de lembrar que entre as "vítimas" esteve o Brasil, em 98. Sob comando de FHC, o país apostou em financiamento externo para os déficits em suas contas. Afinal, o mercado internacional é tão bonzinho, não? Está aí pra nos ajudar, desde que façamos a "lição de casa".

E foi assim que fomos ao buraco. Quebramos em 98!

Naquela época, o Serra ainda não era de "esquerda"... E o Bresser ainda não dizia as coisas com tanta clareza.

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