sábado, 28 de junho de 2014

Vendedores em rodovias são alternativa de mercado a agricultores de Sorocaba

BLOG O MURAL: Tipo de venda acaba empregando várias pessoas na informalidade; reportagem de Marcelo Roma
marcelo.roma@jcruzeiro.com.br


 

Os vendedores de frutas e legumes instalados em caminhões, kombis e outros utilitários, em rodovias e nos bairros, são alternativa para o agricultor de Sorocaba e municípios da região escoarem seus produtos por um preço satisfatório. A época de safra oferta vegetais de melhor qualidade, vários deles difíceis de encontrar em supermercados, como milho verde e tipos diferentes de abóboras. Muitos dos vendedores são ambulantes, mas há os que trabalham em pontos fixos, como Hélio Antunes. 

O caminhão, um modelo Dodge antigo, não anda mais e serve como referência. O "caminhão da fruta" fica na rodovia Emerenciano Prestes de Barros (SP-97), em frente à escola do bairro Caguaçu, na saída de Sorocaba para Porto Feliz. E são os agricultores do Caguaçu os principais fornecedores de Hélio. Laranja, mexerica, limão, repolho, couve-flor e abobrinha vêm diretamente de propriedades do bairro, a apenas alguns quilômetros do ponto de venda. 

De acordo com Antunes, cerca de 30 agricultores de Sorocaba, principalmente do Caguaçu, fornecem os produtos, que entregam diretamente no ponto na rodovia e são colocados à venda logo depois. "Às vezes, acabam de chegar e já há pessoas esperando", diz o vendedor. Outros produtos, não cultivados em Sorocaba, têm que vir de outros municípios. "O milho verde e a melancia vêm de Capela do Alto. A uva e a goiaba, de Porto Feliz." O produto que vem de mais longe é o abacaxi, produzido em Minas Gerais. 

O vendedor também planta, em Capela do Alto, onde mora. Lá, ele cultiva mandioca e milho, que também vende no caminhão. Porém, é apenas uma parte. Ele conta que está há oito anos no mesmo ponto da rodovia e geralmente quem compra os vegetais costuma dividir com parentes e amigos. Há sacos de laranja de 12 quilos, vendidos a R$ 10, e de 25 quilos de batata, que custam R$ 20. Em quantidade maior, o preço compensa. "Há também gente que depois divide com colegas, no trabalho." 

Antunes procura comprar diretamente dos produtores, pois sem intermediários, pode pagar um pouco mais do que se vendessem para um atacadista ou rede de supermercados, e também ele obtém um retorno melhor. Além disso, recebe produtos mais frescos e de boa qualidade. Ele emprega 15 pessoas no negócio e evita comprar de atacadistas ou entrepostos. Três funcionários trabalham no ponto de venda e outros 10 em Capela do Alto, na preparação dos produtos. O milho verde, por exemplo, é vendido em sacos ou em bandejinhas, com as espigas já descascadas. Tomate, quiabo, maracujá também têm a opção de serem levados embalados, nas bandejinhas. 

Na carroceria do caminhão, Antunes mantém balança e uma máquina de embalar, para os produtos que são entregues diretamente. "O que a gente pode, faz aqui mesmo", diz ele. O vendedor tem a noção de que na rodovia não prejudica o negócio de nenhum comerciante. Na área urbana, poderia haver reclamação de donos de mercados e quitandas, avalia. 

As caixas de madeira servem de suporte para os produtos, colocados ao lado do caminhão, e formam fileiras. Uma lona protege do sol, mas quando chove uma outra tem que ser estendida. Há produtos mais perecíveis, como o milho verde, que dura até três dias. Se sobra, fica indisponível para o consumo humano e Antunes vende, por preço mais baixo, para alimentação animal. "Tem um homem que compra para dar aos carneiros". Este ano, a venda de milho verde não foi como esperava. As pessoas fazem pamonha, curau e sopa. Segundo ele, a Copa do Mundo atrapalhou, inclusive as festas juninas. "Todo mundo está com a cabeça na Copa." 

Lincoln Almeida usa um pequeno caminhão como ponto de venda móvel em Sorocaba. Laranja, mexerica, tomate, batata doce, entre outros produtos, são colocados na calçada. Ontem à tarde, ele permanecia na rua Comendador Genésio Rodrigues, uma travessa no final da avenida Ipanema. Mas percorre outras regiões da cidade. Ele se abastece no entreposto da Ceagesp, em Sorocaba, e também diretamente de produtores rurais na região. 

A laranja, Lincoln costuma pegar em Capela do Alto. Como tem um custo menor para comercialização e vai a vários bairros, pode vender por preços mais baixos e mantém uma clientela garantida. Para facilitar, aceita cartões de débito e de crédito. 

O agricultor e presidente da Cooperativa Mista do Bairro Caguaçu (Coopguaçu), Pedro Paifer, destaca o potencial agrícola de Sorocaba e observa que esses vendedores, ambulantes ou não, representam uma opção para o produtor rural negociar seus produtos. Ele diz que o preço pago é melhor, mas não é suficiente para escoar todo o volume. Para Paifer, a venda sem intermediários beneficia o agricultor, que consegue preços justos, e também o consumidor, que pode escolher vegetais de melhor qualidade e mais baratos. 

Paifer conta que há ideia antiga de uma feira do produtor em Sorocaba, na área urbana, para venda no atacado e no varejo. Havia projeto da Prefeitura, para essa feira ser realizada no Mercado Distrital, na Vila Fiori, junto com um Centro de Apoio ao Produtor Rural. Porém, a proposta foi questionada por mercadores já instalados, no ano passado, e se abriu uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Câmara Municipal, encerrada em abril. Apesar de serem discutidos outros lugares para a feira, não se chegou a uma definição.

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