BLOG O MURAL: Já faz
muito tempo que observo a ação das pessoas em relação ao seu comportamento, mas
depois dos protestos de junho e julho passei a fazer com mais insistência,
afinal acreditava que as mudanças estavam na sociedade, se não, o porquê de
tanta gente na rua gritando contra a corrupção, governos e partidos. Durante
este tempo todo tenho observado que não há uma vez sequer que saio de minha casa
e não constato ao menos uma situação de gente querendo levar vantagem em alguma
coisa. No trânsito, em filas, no estacionamento, usando a calçada para seu
comércio irregular… Não há uma única vez que saio de casa e não me deparo com
um flagrante desse tipo.
Uma das
minhas observações ocorreu no domingo passado em um supermercado de “elite”
(usando termos de meus alunos). Vi uma mulher se posicionar em uma fila, e
colocar duas filhas, cada uma em fila diversa. Por que não escolhe uma só fila
e assume a consequência? Não. Não pode perder a chance de praticar a
“esperteza”. Cobra-se honestidade de políticos, e com razões para isso, mas no
dia a dia pratica-se o comportamento de levar vantagem e de não se preocupar
com a coletividade. Como pode querer exigir retidão de políticos se em pequenas
coisas pratica-se a metodologia que é criticada?
Não vou
dizer que não comento meus pecados. Que jamais os cometi. Tenho me policiado. E
não é tarefa fácil ser correto envolto a “espertos”. Gente que trapaceia na tua
cara sem o menor constrangimento. Transmite a sensação de que ser correto é
passar-se por bobo. Além do que se não permanecer vigilante quanto aos próprios
atos acaba-se, por osmose, por praticar o comportamento condenável. O trânsito
de veículos automotores no cotidiano é o exemplo aonde mais fácil se constata o
que estou dizendo.
E essa
falta de cuidado ocorre em tudo. Desde coisas simples como não se preocupar em
estacionar o carro de forma que caiba mais um. O sujeito somente porque foi o
primeiro a chegar coloca o carro de forma que apenas ele consiga estacionar.
Isso é só um simples exemplo. Mas descamba para as mais diversas situações até
a descarada priorização de categorias profissionais, de quem se sente especial,
preterindo a sociedade de uma forma geral. É só pegarmos o exemplo dos juízes
que deram voz de prisão, um a agente de trânsito e outro aos funcionários de
uma empresa área.
Três
dias após escrever o desabafo me deparei com outra situação ratificando minhas
palavras. Assaltantes de Banco, na semana passada, dominaram o centro de uma
cidade do interior de São Paulo, fazendo reféns transeuntes e clientes, que
durante a ação permaneceram quietinhos. Na fuga, os assaltantes deixaram cair
um saco de dinheiro cujas notas ficaram espalhadas no chão em plena rua. Todos
os reféns e transeuntes estavam aterrorizados. Deixaram passar cerca de dois
minutos (seria mais?) da fuga dos ladrões, certificando que de fato haviam ido
embora e de repente, avançaram sobre o dinheiro espalhado pelo chão como
piranhas em uma carcaça de boi.
É nessas
horas que penso Natal, Ano Novo, tudo para que possamos mudar, começar o
regime, largar o cigarro, beber menos etc.. Mas é importante mudarmos também
nosso comportamento, que é essencial para a mudança da nossa sociedade. Pois percebem
que é uma questão de oportunidade? Aquela mesma gente que avançou sobre o
dinheiro, participando do roubo ao Banco, é que reclama de políticos, se tiver
chance fará igual ao que hoje condenam. Como de fato fizeram.
Eis que
de presente de Natal me cai no colo o comercial da Cacau Show, nada contra
o chocolate, muito menos a marca, mas para mostrar que da classe C, D e E à
classe A e B, passa se um pensamento tosco de levar vantagem em tudo. Quem
assistir o vídeo verá que o menino levanta a noite para trocar os presentes,
pegar o que pertencia ao seu tio e passar para seu avô, mostrando
subliminarmente que neto e avô levaram vantagem ao trapacear os outros com um
chocotone. Observem a subliminar mensagem do comercial, que para
mim nada tem de subliminar, é de fato uma retorica no país essa
cultura. Ou vocês acham que o publicitário era ingênuo?
Muito
mais que apenas possibilitar o ensejo do debate pedagógico sobre o uso da
criança em um comportamento inadequado, é a confirmação de que a cultura da
esperteza, da malandragem, da pilantragem, faz parte do consciente coletivo. Quem
em uma primeira olhadela, sem se atear à gravidade do fato, não achou
engraçadinho o pilantrinha trapacear sob a cumplicidade e supervisão de um
adulto? Esse comercial exibe toda a hipocrisia do falso brado de combate à
corrupção e causa constrangimento porque esfrega em nossas caras que a cultura
da trapaça é treinada e incentivada por adultos às crianças, desde a
infância. Destarte, inútil queixar-se posteriormente do comportamento
dos adultos, já que assim foram formados.
Por isso
neste Natal e no começar de 2015, tratemos de ser mais humano e reconhecermos
que somos propagador das culturas erradas, e a partir daí mudar, mas mudar de
verdade, pois se continuarmos achando tudo de errado somente no próximo jamais
mudaremos nossas culturas, e por consequência nossa sociedade. Feliz Natal e
próspero Ano Novo a todos, mas com mudança dentro de nós mesmos. Vejo o vídeo: www.youtube.com/watch?v=0sQy-ig7Nys.
Professor Urias de
Oliveira...